sexta-feira, 13 de março de 2015

(Opinião) Os dois anos de caminho do Papa Francisco

Esta sexta-feira o Papa Francisco conclui o segundo ano da sua eleição. Lançar um olhar sobre o caminho percorrido é um exercício fundamental para se perceber que uma mudança é sempre possível, desde que exista um requisito fundamental: vontade de mudar.
Foi isso que aconteceu. Jorge Mario Bergoglio é argentino, natural de Buenos Aires e nasceu em 17 de dezembro de 1936. Fará 79 anos. É o novo Papa.
A idade permitiu-lhe viver momentos muito difíceis em todo o mundo, nomeadamente o da tragédia da segunda guerra mundial. Deu-lhe também a oportunidade de partilhar o oposto, as oportunidades que foram oferecidas à paz, nomeadamente com a construção de uma Europa, solidária, em que o homem voltou a ser o centro da vida.
No entanto, com o passar dos anos, a memória das pessoas perdeu-se nos imediatismos da vida e as próprias ideologias, os valores humanistas, rapidamente foram capturados pela força do dinheiro. O prazer maior pareceu estar ao alcance de todos, mas de facto, como a história nos ensina, cristalizou novamente numa minoria dominante.
Teresa de Sousa, em entrevista a António Guterres, na sua qualidade de líder do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, confrontou-o com um dado que considerou, e bem, chocante: “ … o número de refugiados e deslocados em 2014 é o maior desde o fim da II Guerra”. E o comentário de Guterres foi o seguinte: É verdade. No final de 2013 tínhamos mais de 51 milhões de pessoas internamente deslocadas ou refugiadas por causa de conflitos, o que aconteceu pela primeira vez desde a II Guerra Mundial. Só que 2014 não vai ser melhor”.
A Europa não quis continuar a mudança. O mundo também não. Estamos num regresso ao passado e a ser assim o futuro será sempre incerto. O motivo é simples: não há vontade de mudar.
Olhemos novamente para o Papa Francisco e sublinhemos alguns traços que ilustram o caminho percorrido e que Paulo Rangel recordou em artigo recente: (…) Francisco é um homem que faz, (…) lava os pés às mulheres muçulmanas, baptiza filhos de mães solteiras e de unidos de facto (…) não se sente capaz de julgar os homossexuais (…) mostra preocupação com a situação dos recasados, (…) recebe em audiência transexuais, insiste na condenação do capitalismo desenfreado, mostra uma verdadeira obsessão pelos mais pobres e excluídos, (…) verbera sem contemplações os casos de pedofilia no clero, aproxima-se de judeus e muçulmanos e demais religiões (….).
Até há pouco estas eram mudanças improváveis na Igreja. Tudo se explica por uma liderança forte, pela vontade de compreender e respeitar, pela vontade de mudar. É exatamente isto que tem faltado nos nossos dias, lideranças fortes e vontade de mudar. Ficam como desafio à política os dois anos de caminho do Papa Francisco.

DV 2015.03.10

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