O ministro da Saúde está a colher os
frutos de uma política errada, mas quem sofre as consequências são os utentes
do SNS. Os cortes, de 2011 a 2014, superaram em 61% o memorando assinado com a
“Troika”.
E, como se constata pela execução
orçamental do ano passado, houve um excedente fiscal de mil milhões de euros,
acima do previsto. E o défice será menor em função, segundo a UTAO, pelos
cortes no investimento e na formação. Razões nada virtuosas, portanto.
Não havia necessidade! Tudo para
construir um cenário falacioso em ano eleitoral que permita dizer, em síntese,
temos dinheiro a mais e até vamos pagar parte do empréstimo ao FMI. Claro que
todos entenderão o significado das coisas, sobretudo o primeiro-ministro,
porque, tal como ele, mas por razões inversas, não podemos pensar no dia de
hoje esquecendo o de amanhã.
O ministro Paulo Macedo não esqueceu o
amanhã eleitoral, mas também não se deteve no futuro do SNS, nem na
desqualificação que sobre ele lançou durante quatro anos. Ser o responsável da
Autoridade Tributária é uma coisa, mas ser tutela da Saúde é outra bem
diferente. No primeiro caso lida com números e no segundo com a vida das
pessoas.
E lida mal. Não são apenas as más
notícias das urgências, do atendimento deficiente, da impreparação e dos óbitos
já registados que falam mais alto. São os hospitais ingovernáveis, os
adiamentos cirúrgicos, nomeadamente em oncologia, a falta de material, a
desmotivação das equipas e o despudor na contratualização laboral.
A inexistência da reforma hospitalar,
sempre prometida e permanentemente adiada, tipifica bem a incapacidade de
realização, previsão e planeamento do ministério da Saúde. As consequências
atingem o INEM cujo presidente acaba de manifestar a necessidade de autonomia
na contratação de recursos técnicos.
O “espartilho” imposto nos nossos dias,
pelo governo, no que respeita à prontidão das equipas implica que o INEM para
dar resposta a um qualquer episódio tem de subtrair às urgências os técnicos
que nelas se encontram em atividade, interrompendo-a.
É importante sublinhar ainda, neste
contexto, que o recurso às empresas de trabalho temporário para os diferentes
atos médicos destrói o espírito de equipa de qualquer unidade de saúde, também
em Viseu. Não fora a dedicação ou o espírito de entrega dos profissionais e a
situação seria bem pior.
Em Viseu continuamos sem notícias do
centro oncológico e não as temos também para as obras que permitirão aumentar o
espaço físico das urgências no centro hospitalar em Viseu.
Obras urgentes que vão qualificar as
condições de trabalho de todos os profissionais, que vão aumentar a sua
eficiência e que, por último, vão permitir mais dignidade no atendimento dos
doentes e no seu acompanhamento pelas famílias.
Não podemos culpar o Conselho de
Administração, mas tão só o governo e o ministro que recebemos em Viseu, em
2014, no centro hospitalar, e que nos dirigiu palavras à margem da verdade.
Paulo Macedo ultrapassou o prazo de validade, tal como o governo.
DV 2015.01.28
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