Nenhuma
das eleições internas no PS é objeto de comparação com as primárias. Estas são
uma inovação em Portugal e envolvem um universo que vai muito para além dos
militantes socialistas, mas não para muito longe de uma capacidade dos
simpatizantes votarem no PS nos momentos em que a ele ficam unidos pela
esperança e pela confiança.
Em
Viseu distrito as primárias tiveram quatro vezes mais eleitores do que as
internas para a federação, mesmo com dois protagonistas em disputa. Não é para
comparar o incomparável, nem pôr em causa a força e validade das duas, mas para
sublinhar que as primeiras aproximaram mais os eleitores da participação. Como
se sabe, e é natural, o universo interno restringe-se aos inscritos ativos que
pagaram quotas.
E
aos inscritos inativos, os que não pagam desde 2010, a quem foi dada a
oportunidade de votarem nestas primárias, ficou claro que não quiseram
aproveitar este momento. De um universo global com mais de 12000 eleitores, era
esse sensivelmente o número de boletins existente, 7500 votantes foram às
urnas, mas apenas 591 pertenciam aos inativos que exerceram os seus direitos.
Destes, por exemplo, entre centenas no concelho de Viseu, apenas 77 votaram.
Significa, pois, que foi aos simpatizantes que coube a tarefa de fazer a
mudança.
Aproximar
os cidadãos da política é um desejo que todos proclamam, mas que, até hoje, só
o PS conseguiu materializar. E de forma exemplar! António José Seguro ficará
ligado a esta mudança, não só porque a protagonizou, mas porque também foi
vítima dela.
Os
partidos tardam em fazer esta abertura, porque quando esta acontece os
“sindicatos de voto” são diluídos pela vontade de outras maiorias. Uma coisa é
a opinião interna e outra, bem diferente, é a opinião pública. E esta é bem
distinta da opinião publicada, tal como a história nos recorda permanentemente.
Creio,
pois, que seria interessante discutir se para a escolha de uma lista de
deputados o PS poderia equacionar a possibilidade de voltar a chamar os simpatizantes
a essa responsabilidade. Afinal, a representatividade pública de um deputado
pode ser bem diferente da interna ou até coincidir com esta.
Penso
que a exposição pública dos militantes socialistas seria mais estimulada e, de
algum modo, aqueles que aparecem do nada ou dos jogos de poder sentir-se-iam na
obrigação da fazer algo que lhes merecesse notoriedade e reconhecimento. Esta é
maneira de acabar com a velha política.
No
fundo e no fim, a nova lei eleitoral de que tanto se fala, considerando
círculos uninominais e um círculo nacional, poderia ser uma primeira resposta para
a mudança do sistema eleitoral, possibilidade que só é materializável se na
Assembleia da República se estabelecer um amplo consenso.
Creio
que o PS, internamente, no seu congresso e estruturas, não deixará de fazer
este debate. Os problemas da democracia resolvem-se com mais democracia. O PS
continuará a liderar os desafios da inovação.
Dv
2014-10-01
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