sexta-feira, 22 de agosto de 2014

(Opinião) “Vender gato por lebre”

Por vezes, em alguma imprensa escrita, aparecem redações, tidas por “notícias”, sobre a atividade dos deputados no fim de cada sessão legislativa. Nos finais de julho terminam as sessões plenárias na Assembleia da República e os temas começam a faltar a alguns articulistas ou jornalistas que revelam maiores dificuldades na função. Daí à exploração minorca do número de intervenções, faltas, perguntas ao governo, participação em missões parlamentares e quejandos, é um ápice. Todos os anos a coisa se repete.
Quanto mais pequeno é um grupo parlamentar maior é o número de intervenções dos seus deputados, individualmente. São menos, mas o número e diversidade de assuntos é o mesmo para todos. Daí que tenham de falar mais vezes. Toda a gente sabe.
Ao contrário, quanto maior é o grupo parlamentar menor é o número de intervenções de cada deputado, exceção feita aos membros da direção da respetiva bancada que, por exigência de função, falam mais. Daí que avaliar a qualidade do deputado pelo número de intervenções, tão só, é instinto curto e pequena escrita.
O mesmo se passa com a assiduidade. Os parlamentares que pertencem a representações internacionais, para cumprirem os seus deveres têm de reunir fora do país. Como ainda não possuem o dom da ubiquidade, não estão presentes, nesse período, nas sessões plenárias e terão por isso uma falta, ainda que justificada.
Os que no respetivo círculo eleitoral acompanham a deslocação de um membro do governo, participam em conferências, aceitam participar em atos públicos institucionais ou outros, igualmente afins, também têm falta, ainda que justificada.
O mesmo acontece àqueles que por doença, luto, ou outra contrariedade, não podem comparecer aos plenários. Para certos articulistas ou jornalistas todos têm uma coisa em comum: são uns “faltosos”. A ideia não é inspiradora, mas materializa aquela capacidade primária de “dizer mal”, mesmo que seja do bem. E pode mesmo funcionar como encómio ao “ofício de corpo presente”!
O que não diriam aqueles cidadãos que nas empresas ou instituições (também por dever de ofício) têm de se ausentar em trabalho, se a entidade patronal lhes marcasse falta e no final do ano fossem, por isso mesmo, considerados “faltosos” e, consequentemente, desqualificados?
Sei que fazer do deputado o “bombo da festa” é popular e que é difícil a alguns evitarem esse registo de preenchida projeção pessoal. Sei que escrever um bom conteúdo não está ao alcance de qualquer um. Em todas as profissões isso acontece. Uns são mais briosos, outros não. Uns fazem fretes, outros não. É da vida.
Sei que “santos da terra não fazem milagres”, mas não querendo alguns ser milagreiros, até por não serem santos (e apenas tributarem essa capacidade ao Divino), bom seria que não fossem utilizados por aqueles que nos jornais muito gostam de “vender gato por lebre” 

DV 2014-08-20

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