Por vezes, em alguma
imprensa escrita, aparecem redações, tidas por “notícias”, sobre a atividade
dos deputados no fim de cada sessão legislativa. Nos finais de julho terminam
as sessões plenárias na Assembleia da República e os temas começam a faltar a
alguns articulistas ou jornalistas que revelam maiores dificuldades na função.
Daí à exploração minorca do número de intervenções, faltas, perguntas ao
governo, participação em missões parlamentares e quejandos, é um ápice. Todos
os anos a coisa se repete.
Quanto mais pequeno é
um grupo parlamentar maior é o número de intervenções dos seus deputados,
individualmente. São menos, mas o número e diversidade de assuntos é o mesmo
para todos. Daí que tenham de falar mais vezes. Toda a gente sabe.
Ao contrário, quanto
maior é o grupo parlamentar menor é o número de intervenções de cada deputado, exceção
feita aos membros da direção da respetiva bancada que, por exigência de função,
falam mais. Daí que avaliar a qualidade do deputado pelo número de
intervenções, tão só, é instinto curto e pequena escrita.
O mesmo se passa com a
assiduidade. Os parlamentares que pertencem a representações internacionais, para
cumprirem os seus deveres têm de reunir fora do país. Como ainda não possuem o
dom da ubiquidade, não estão presentes, nesse período, nas sessões plenárias e
terão por isso uma falta, ainda que justificada.
Os que no respetivo
círculo eleitoral acompanham a deslocação de um membro do governo, participam
em conferências, aceitam participar em atos públicos institucionais ou outros,
igualmente afins, também têm falta, ainda que justificada.
O mesmo acontece
àqueles que por doença, luto, ou outra contrariedade, não podem comparecer aos
plenários. Para certos articulistas ou jornalistas todos têm uma coisa em
comum: são uns “faltosos”. A ideia não é inspiradora, mas materializa aquela
capacidade primária de “dizer mal”, mesmo que seja do bem. E pode mesmo
funcionar como encómio ao “ofício de corpo presente”!
O que não diriam
aqueles cidadãos que nas empresas ou instituições (também por dever de ofício)
têm de se ausentar em trabalho, se a entidade patronal lhes marcasse falta e no
final do ano fossem, por isso mesmo, considerados “faltosos” e,
consequentemente, desqualificados?
Sei que fazer do
deputado o “bombo da festa” é popular e que é difícil a alguns evitarem esse
registo de preenchida projeção pessoal. Sei que escrever um bom conteúdo não
está ao alcance de qualquer um. Em todas as profissões isso acontece. Uns são
mais briosos, outros não. Uns fazem fretes, outros não. É da vida.
Sei que “santos da
terra não fazem milagres”, mas não querendo alguns ser milagreiros, até por não
serem santos (e apenas tributarem essa capacidade ao Divino), bom seria que não
fossem utilizados por aqueles que nos jornais muito gostam de “vender gato por
lebre”
DV 2014-08-20
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