sexta-feira, 15 de agosto de 2014

(Opinião) Os problemas da democracia resolvem-se com mais democracia

(autor da foto: Paulo Neto)
As primárias no PS são uma inovação em Portugal, mas não na Europa. Os grandes partidos do arco da governação serão influenciados por este exemplo que, por sua vez, decorre de outros já existentes. O PSOE, ao nosso lado, vai por aí. Cá dentro, o PSD deverá procurar uma solução semelhante.
Com o decorrer dos anos, os partidos tendem a fechar-se sobre si próprios. Acabam por se resumirem a sindicatos de votos em que poucos decidem por todos. Os militantes afastam-se da vida partidária ao mesmo ritmo que os eleitores se distanciam da vida política. Tudo vai ficando mais impessoal e menos atrativo.
A perversão na vida democrática interna ilustra uma outra, a que inunda as sociedades que, durante décadas, confiaram o seu voto a promessas incumpridas de protagonistas "inconseguintes", como agora se diz. Ao mesmo tempo, a pressão mediática aumenta, as respostas aos problemas das pessoas tardam e são insuficientes. Os ciclos políticos tendem a ser mais pequenos e a instabilidade maior.
A Europa em que vivemos foi construída em nome da paz, de ideais que nos conduziam à esperança e à confiança. Mais emprego, melhor educação, mais saúde, melhores políticas sociais, mais tecnologia, melhor ambiente, foram valores o objetivos mobilizadores. Acontece que este espaço de oportunidade está a ser substituído por um outro, o do constrangimento, do desemprego, sobretudo para os mais novos.
Uma juventude sem esperança corresponde a países sem futuro. Quando aqueles valores sociais, coletivos,  são substituídos por outros mais intemporais, os do prazer maior, do dinheiro ou do lucro fácil, só poderemos esperar mais desigualdade e menos solidariedade. O bem-estar de alguns, poucos, será por oposição o mal-estar de todos os outros. É ao que assistimos nos nossos dias.
É neste contexto que surgem opções mais radicais, à esquerda ou à direita, mas sempre extremas e com pouca participação pública. As eleições europeias são o exemplo mais próximo do desinteresse. A abstenção de quase todos fez com que poucos decidissem por muitos. Os resultados são conhecidos, por nós e pelos nossos vizinhos espanhóis.
Penso, por isso, que as primárias serão uma opção que aproximará mais os cidadãos da política. A capacidade de poderem exprimir a sua opinião, e sentirem que a mesma é considerada, promoverá a sua reaproximação à política.
Pronunciarem-se sobre o candidato a primeiro-ministro ou manifestarem a sua preferência por aqueles que julgam ser os deputados mais capazes para as representarem será o abrir de uma nova era. Simultaneamente serão diluídos os poderes internos dos partidos, os seus sindicatos de voto e a autenticidade regressará à vida política e à vida pública. 
Está aqui, creio eu, uma nova esperança para uma renovação genuína. É o que espero poder vir a acontecer. Sempre acreditei que os problemas da democracia se resolvem com mais democracia.
DV 2014.08.13


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