(autor da foto: Paulo Neto) |
As
primárias no PS são uma inovação em Portugal, mas não na Europa. Os grandes
partidos do arco da governação serão influenciados por este exemplo que, por
sua vez, decorre de outros já existentes. O PSOE, ao nosso lado, vai por aí. Cá
dentro, o PSD deverá procurar uma solução semelhante.
Com
o decorrer dos anos, os partidos tendem a fechar-se sobre si próprios. Acabam
por se resumirem a sindicatos de votos em que poucos decidem por todos. Os
militantes afastam-se da vida partidária ao mesmo ritmo que os eleitores se
distanciam da vida política. Tudo vai ficando mais impessoal e menos atrativo.
A
perversão na vida democrática interna ilustra uma outra, a que inunda as
sociedades que, durante décadas, confiaram o seu voto a promessas incumpridas
de protagonistas "inconseguintes", como agora se diz. Ao mesmo tempo, a pressão
mediática aumenta, as respostas aos problemas das pessoas tardam e são
insuficientes. Os ciclos políticos tendem a ser mais pequenos e a instabilidade
maior.
A
Europa em que vivemos foi construída em nome da paz, de ideais que nos
conduziam à esperança e à confiança. Mais emprego, melhor educação, mais saúde,
melhores políticas sociais, mais tecnologia, melhor ambiente, foram valores o
objetivos mobilizadores. Acontece que este espaço de oportunidade está a ser
substituído por um outro, o do constrangimento, do desemprego, sobretudo para
os mais novos.
Uma
juventude sem esperança corresponde a países sem futuro. Quando aqueles valores
sociais, coletivos, são substituídos por
outros mais intemporais, os do prazer maior, do dinheiro ou do lucro fácil, só
poderemos esperar mais desigualdade e menos solidariedade. O bem-estar de
alguns, poucos, será por oposição o mal-estar de todos os outros. É ao que
assistimos nos nossos dias.
É
neste contexto que surgem opções mais radicais, à esquerda ou à direita, mas
sempre extremas e com pouca participação pública. As eleições europeias são o
exemplo mais próximo do desinteresse. A abstenção de quase todos fez com que
poucos decidissem por muitos. Os resultados são conhecidos, por nós e pelos
nossos vizinhos espanhóis.
Penso,
por isso, que as primárias serão uma opção que aproximará mais os cidadãos da
política. A capacidade de poderem exprimir a sua opinião, e sentirem que a
mesma é considerada, promoverá a sua reaproximação à política.
Pronunciarem-se
sobre o candidato a primeiro-ministro ou manifestarem a sua preferência por
aqueles que julgam ser os deputados mais capazes para as representarem será o
abrir de uma nova era. Simultaneamente serão diluídos os poderes internos dos
partidos, os seus sindicatos de voto e a autenticidade regressará à vida
política e à vida pública.
Está aqui, creio eu, uma nova esperança para uma
renovação genuína. É o que espero poder vir a acontecer. Sempre acreditei que
os problemas da democracia se resolvem com mais democracia.
DV
2014.08.13
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