A
antecipação das eleições legislativas é uma possibilidade que está a fazer o
seu caminho. O próprio Presidente da República, a propósito de uma convergência
parlamentar, entre maioria e oposição ou entre esta e o governo, com especial
destaque para o PS, para aprovação de mais um conjunto de cortes, ofereceu essa
possibilidade, a de eleições antecipadas.
Como é público, António Seguro não trocou as suas convicções pelo mais que provável
poder de governar. Não se deixou encantar por essa possibilidade que, com toda
a probabilidade, o conduziria a primeiro-ministro.
O
facto relevante não é no entanto esse. É sim a compreensão que o Presidente
tinha sobre a precariedade da ação governativa. Não diferia, como se percebe,
dos partidos da oposição. Queria, apenas, obter mais qualquer coisa que, neste
caso, seria acrescentar austeridade à austeridade. A acontecer, teria sido a
cobertura da direita pela esquerda. Felizmente, Presidente e Governo ficaram
isolados.
Já
anteriormente o PS havia apresentado uma moção de censura. O significado foi
apenas político. Na prática, esta maioria derrotará sempre qualquer iniciativa
nesse sentido. No Conselho de Estado, sempre que houve oportunidade, António
Seguro insistiu na tese de renovação de legitimidade.
O
governo travava querelas insanáveis. Paulo Portas chegou mesmo a demitir-se.
Irrevogavelmente, seria promovido a vice primeiro-ministro. O governo continuou
a remodelar-se e a aumentar de volume. Deixou de ser dos mais pequenos para se
converter num dos maiores. Mais 50% dos seus membros foram substituídos. Assim
tivesse acontecido às políticas. E como tal não se verificou vamos tendo gente
nova com problemas velhos, até hoje irresolúveis.
Entretanto,
aconteceram várias crises entre o governo e o Tribunal Constitucional, querelas
únicas nas democracias planetárias. Não se tratava, como sempre foi legítimo,
de exprimir desacordo sobre uma decisão. O ataque era dirigido ao próprio
tribunal e aos juízes chegando mesmo a maioria a afirmar, a nível elevado, que
ou os juízes se “portavam bem” ou não teriam condições para continuar no
exercício do cargo.
As
instituições, governo, Tribunal Constitucional, Presidente da República,
Assembleia da República, deixaram de ter condições para o seu normal
funcionamento. Não era alguém que queria que o governo interrompesse o seu
legítimo mandato. Pelo contrário, foi sempre o governo a interromper-se a si
próprio e ao país.
Assume, pois, particular
relevância que esta semana António Costa e Rui Rio defendam agora a mesma tese
de Seguro, com
uma "nuance" substantiva: a antecipação para abril. Seria
tecnicamente desejável porque, assim, o ciclo legislativo ao passar para este
mês ficaria suficientemente longe da data de outubro, altura em que o OE deve
ser entregue na AR; e ficaria suficientemente longe das presidenciais.
Parece-me bem. Todos estaremos de acordo, certa e
finalmente!
DV 2014-07-23
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