A Comissão Nacional do PS
reunirá quinta-feira para decidir sobre as primárias e o respetivo calendário.
Este artigo é escrito antes e só será publicado depois das decisões assumidas. Poderá
ter, por isso, uma certa margem de erro.
O que é isso de primárias e
como se organizam, perguntam as pessoas em geral e, também, os
militantes do PS? As primárias para a escolha do candidato socialista a
primeiro-ministro são um processo inovador em Portugal, mas não na Europa ou
nos Estados Unidos.
As pessoas que na sociedade
civil se declarem simpatizantes e desejem votar no PS
inscrevem-se, para esse fim, de acordo com os estatutos. Assumem um compromisso
público e tornam-se parte de um recenseamento supervisionado por uma comissão organizadora
plural. Passam a ter a categoria de “simpatizantes” e serão parte de um colégio
eleitoral.
Os militantes do PS, através
dos seus dirigentes, abrem esta oportunidade de participação à
sociedade civil e dão-lhe, por isso, razões para se aproximar da política e participar
nas escolhas que influenciam as suas vidas, a de primeiro-ministro neste caso.
Este processo não inclui a
escolha dos órgãos internos e não se aplica,
portanto, à do Secretário-geral
do PS, porque este é eleito diretamente pelos militantes em escrutínio interno,
universal e secreto. Foi assim com António Seguro, José Sócrates ou António
Guterres, e é assim também para os presidentes das federações distritais do PS.
Portanto, em
nenhum congresso extraordinário, nacional ou distrital, existe capacidade
eletiva para Secretário-geral ou presidente de federação, respetivamente. Este
quadro demonstra várias coisas.
Em primeiro lugar fica
claro que António José Seguro não está agarrado a nenhum poder, abdica de um
direito estatutário, e escolhe o caminho mais arriscado e exigente, o de se
submeter a sufrágio para candidato a primeiro-ministro num universo para além
dos militantes do PS.
No caso de não ganhar,
perguntam alguns, e bem, o PS ficará com um Secretário-geral
diferente do eleito para primeiro-ministro, com uma liderança bicéfala? Não,
porque nessa circunstância não persistirá nas suas funções, como referiu na
reunião do Vimeiro.
Em segundo lugar,
pelo método de eleição para Secretário-geral, fica claro que um congresso
extraordinário não tem capacidade eletiva sendo, para esse efeito, inútil. Daí
que a solução de primárias, que terão um tempo de organização idêntico ao de um
congresso, seja a minha opção.
Então, se só as diretas podem
eleger um novo Secretário-geral, por que motivo não se demite António Seguro,
pois só assim estas poderiam existir? Porque um Secretário-geral relegitimado
há um ano, que trouxe o PS das derrotas de 2009 e 2011, às vitórias de 2013 e
2014, triunfou e não falhou. O partido que dirige ganhou e não perdeu.
E se o resultado autárquico
foi o melhor de sempre, a vitória nas Europeias inclui o PS
português na “short list” dos cinco países (em 28), onde os socialistas também tiveram
sucesso (Malta, Itália, Roménia e Suécia). Ganhar as eleições em 173 dos 308
concelhos, mais do que os 150 onde há câmaras PS, significa muito. Europeias
não são autárquicas e, muito menos, legislativas. Vamos lá às primárias.
DV
2014-06-04
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