"Faits divers" foi a expressão utilizada esta
semana pelo Presidente da
República para sublinhar, no seu douto entender, manobras de diversão de
terceiros a propósito do debate político. Tomo como boa essa inspiração para me
referir ao presidente da câmara de Viseu e à sua incomodidade com o que tem
dito sobre a ligação Viseu-Coimbra.
Depois da querela política nacional que o PSD
promoveu a propósito da rede de autoestradas do centro, ficou claro que a
adjudicação ao vencedor do concurso do IP3 a sul, lançado e concluído pelo
governo anterior, não se realizou, porque também amealhou este contributo
negativo. Enfim, águas passadas... olhemos para a frente.
A campanha autárquica ressuscitou o debate, com
o PS a dizer que esse projeto seria uma prioridade para o executivo socialista,
caso viesse a ser eleito. E não foi. Referi, na altura, que a solução estava
encontrada, quer no traçado e avaliação ambiental, quer no modelo de
financiamento que incluía as portagens.
O presidente da câmara de Viseu também defendeu,
justamente, a necessidade da ligação, mas companheiros seus de campanha,
nomeadamente o atual presidente da AIRV, dava o primeiro sinal de mudança: a
terminologia "autoestrada" foi substituída por estrada
"digna".
Com a pressão política instalada pelo PS, a
maioria de direita, mais tarde, já na assembleia municipal, fez depender a
aprovação de um texto conjunto (a fusão de duas moções dos respetivos partidos)
da inclusão da expressão: "autoestrada sem portagens". E assim foi, o
PS, em nome da força gerada pela unanimidade, votou favoravelmente.
Entretanto, o presidente da autarquia já divulgara,
demagogicamente, a informação de que a Comunidade Europeia
financiaria a obra em 85%. Portanto, na opinião do PSD, fazer a tão desejada
via seria mais do que "digna", seria uma autoestrada, sem portagens e
financiada a 85%. Ouro sobre azul!
Acontece que o secretário de estado Sérgio Monteiro,
depois da reunião de autarcas e deputados socialistas de Viseu e Coimbra,
apressou-se a repor a verdade e em entrevista a um semanário local reafirmou o
que dissera: não haverá dinheiro comunitário para a desejada autoestrada e esta
só seria uma realidade pela iniciativa privada, com portagens e sem corredor
alternativo. Palavras para quê?
Apesar do ocorrido, o presidente da câmara de Viseu, em
vez de se justificar ou pedir desculpa, seguiu em frente, esqueceu as
informações e as promessas, e começou um novo discurso: o traçado deveria ser
alterado e seguir até Condeixa. É isto o tal "fait divers".
Ora, para os mais distraídos,
esta estratégia pode resultar, pode fazer esquecer as erradas proclamações, mas
não resolve o essencial: a construção da ligação Viseu-Coimbra.
Bom, para um contributo final, gostaria de relembrar as
conclusões da reunião entre autarcas e deputados socialistas de Viseu e Coimbra:
o governo que escolha e coloque à discussão a solução que entender, mas que
faça a estrada. É que estamos em tempo de realizações e não de proclamações.
DV
2014-04-2
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