sábado, 14 de dezembro de 2013

Ora...Ora!!!" - Queixa na Ordem dos Médicos pode vir a custar 102 euros

A Ordem dos Médicos, depois de tentar diminuir o número de estudantes em Medicina quer. agora, obrigar a pagar o cidadão que queira reclamar. Ora...Ora!!!

"Proposta de revisão de estatutos contempla pagamento de custas e de taxas pelos queixosos, mas deverá prever isenções
 A Ordem dos Médicos (OM) quer passar a cobrar custas e taxas às pessoas que apresentem queixas contra os clínicos na instituição, de forma a evitar que as participações sem fundamento se multipliquem e a tornar mais rápidas as decisões. O valor destes pagamentos (que surgem na proposta da revisão de estatutos da OM) ainda vai ser definido por regulamento próprio, mas pode ascender a 102 euros.
O que se propõe é que as custas pelas participações à OM possam ser "indexadas ao valor da unidade de conta, que é o valor-base que a lei tem por referência para determinar as custas judiciais (dos processos nos tribunais)", explicou ao PÚBLICO o reeleito presidente da Secção Regional do Norte da Ordem, Miguel Guimarães. 
Actualmente, a unidade de conta tem "o valor de 102 euros", precisou. O pagamento de custas (pelas participações) e de taxas (pelos recursos das decisões) foi introduzido na proposta de estatutos "não para diminuir as queixas" mas para responsabilizar as pessoas e ajudar a financiar e agilizar as actividades dos conselhos disciplinares (que são apenas suportadas pelas quotas dos médicos), justificou Miguel Guimarães. A proposta de revisão dos estatutos da OM está desde Fevereiro a aguardar apreciação no Ministério da Saúde e, depois, terá que ser aprovada na Assembleia da República. 
O regulamento poderá prever isenções, no caso de os queixosos provarem a sua insuficiência económica, e que, quem se queixar com razão, receberá de volta o dinheiro. Se a medida for aprovada, vai ser criada uma espécie de "taxa de justiça" a pagar pelas pessoas que fazem participações de médicos, mas num valor baixo, "não dissuasor", como o dos tribunais, garantiu entretanto ao PÚ- BLICO o reeleito bastonário da OM, José Manuel Silva. "Mas ainda está tudo em aberto, não sabemos se a proposta irá ser aprovada", sublinhou. A possibilidade de pagamento de custas - adiantada na edição desta sexta-feira do Diário de Notícias - já está, porém, a desencadear polémica. 
O ainda bastonário da Ordem dos Advogados (OA), Marinho e Pinto, discorda frontalmente da medida. "Exigir dinheiro para apreciar queixas visa desincentivar as pessoas [de as apresentar] e não é próprio de uma associação de direito público", sustenta. O advogado acrescenta que na OA "houve dirigentes e membros de conselhos disciplinares a reclamar" uma taxa deste tipo, medida a que sempre se opôs. "Haver muitas queixas é um bom sinal, é sinal de cidadania, mesmo que sejam infundadas. Não temos que ter medo dos cidadãos", sustenta.
O antigo bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, também não vê qualquer sentido nesta medida. "Essa proposta é um disparate e, provavelmente, nem sequer é legal. A Ordem é uma associação pública, não é um sindicato para defesa dos médicos. E, como associação pública, está ao serviço dos doentes", defendeu, em declarações à TSF. O antigo presidente do Conselho Disciplinar do Sul da OM, Freire de Andrade, também não concorda com "o pagamento de emolumentos". "Não vai resolver o problema do excesso de processos e vai criar dificuldades a quem não devia ter dificuldades", diz.
José Manuel Silva retorque que "falta uma cultura de reclamação" em Portugal - "é preciso distinguir entre reclamações com consequências e reclamações feitas só num impulso de momento" - e nota que as queixas têm aumentado. As pessoas não fazem ideia da despesa imensa e das horas de trabalho despendidas". Em 2012, os três conselhos disciplinares regionais receberam 748 participações, mais de metade das quais (421) no Sul. Em 2011, registaram-se 557 queixas e, em 2010, 447."

  Alexandra Campos  

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