sexta-feira, 29 de novembro de 2013

António Vitorino: na Europa o "único Partido Socialista com 37% nas sondagens é o PS"

Antigo comissário europeu e ex-ministro do Governo de António Guterres defendeu o "cumprimento imperativo" do programa de assistência e criticou a "pressão" feita sobre o Tribunal Constitucional
Não deixou de ser um elogio à liderança de António José Seguro. O ex-ministro da Defesa e antigo comissário europeu António Vitorino assinalou ontem o facto de o partido liderado por Seguro estar, actualmente, "com o melhor resultado dos partidos socialistas no espaço europeu" depois do desabafo de Mário Soares sobre o PS.
Numa entrevista à TSF (...) Vitorino considerou "surpreendentes" algumas das críticas feitas à liderança socialista. "Porque, se olhar para o panorama europeu, o único Partido Socialista que está na oposição e que tem uma indicação de voto na ordem dos 37% é o PS português.
O que se aproxima mais deste número é o Partido Trabalhista inglês, que tem 33%. Se olhar aqui para a vizinha Espanha, o PSOE tem 28% de indicações de voto. E o próprio SPD alemão, que acabou de disputar eleições, teve um resultado bastante medíocre de 26%, isto é, três pontos acima do que tinha tido nas anteriores eleições", sustentou.
O reparo do antigo responsável político surgiu um dia depois de o ex-Presidente ter dito, no lançamento de um livro que, "se o PS fosse um bocadinho mais activo, tinha 90%, com certeza". Ainda assim, o ex-comissário europeu reconheceu que "o PS, neste momento, não é ainda a alternativa que pudesse motivar uma alteração radical do panorama político português".
Da parte da direcção do PS não houve qualquer reacção oficial. Mas o secretário nacional Eurico Dias assumiu ao PÚBLICO que Mário Soares "é livre de fazer o que entende", assistindo ao antigo chefe de Estado o direito de ter "um espaço de intervenção que o PS não tem de estar sempre a comentar". Apenas acrescentou que, na sua opinião, a expressão dos 90% "não podia ser levada à letra".
O distanciamento de António Vitorino em relação a algumas posições socialistas também se verifica nas questões europeias, sendo de destacar a defesa determinada do cumprimento imperativo do programa de ajustamento acordado com a troika. 
"A verdade é muito simples: nós temos absolutamente que concluir o programa de assistência financeira até Junho de 2014", defende o socialista António Vitorino. E deixa um aviso que é dirigido também (e muito) aos que no PS têm levantado a voz para usar como bandeira os falhanços do Governo: "Para a credibilidade do país, é necessário que não se suscite qualquer dúvida sobre a capacidade que temos de pagar a dívida."
O também antigo juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional considera que tem havido sobre o TC uma "deriva de pressão que não se justifica". E faz questão de citar um trabalho do PÚBLICO para afirmar que "não há nenhuma relação directa" entre a variação dos juros da dívida pública no mercado secundário em função das decisões do TC
Vitorino, porém, não tem dúvidas: "Os juros subiram, e muito, para um nível quase equiparável àquele em que estavam quando pedimos assistência financeira [Marco de 2011] durante a crise governamental provocada pela demissão do ministro Vítor Gaspar e depois pela irrevogabilidade da decisão do ministro Paulo Portas. Aí [no início de Julho deste ano] sim, os juros subiram a sério e ainda estamos a pagar esse preço", aponta o socialista.
A tendência para o actual Governo responsabilizar aquela instituição, colocando-a "no pelourinho como o culpado pela subida dos juros da dívida pública portuguesa, além de uma falsidade, é uma ignomínia".
Há duas palavras sobre a dívida que "queimam" os lábios de Vitorino, como o próprio admite: reestruturação e mutualização. "Uma reestruturação da dívida tal como sucedeu na Grécia significa que os credores não vão reaver tudo o que emprestaram. E portanto eu não falo de reestruturação e acho muito perigoso que responsáveis políticos portugueses andem a falar de segundo resgate ou de reestruturação. Se quiser, no limite, eu falo de um reescalonamento no tempo, semelhante àquele que já ocorreu e que pode ainda ser levado mais além."

Sobre a mutualização o socialista diz que são já aplicadas duas formas de mutualização, através da intervenção do BCE e o mecanismo europeu de estabilidade. "O problema é que não chega. Porque é preciso, além disso, em relação à dívida acumulada, dar uma garantia de que ela será paga" - para que não haja contágio de novo, como aconteceu com a Grécia.

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