Há uma inelutável crise política a
envolver o drama social e a tragédia económica que o governo aprofunda todos os
dias. A sua origem está na coligação, bem no seio do Executivo de Passos
Coelho. Os dois partidos, desde Setembro de 2012, quando espontaneamente as
pessoas saíram à rua para contestar a TSU, nunca mais restabeleceram os seus
níveis de confiança e atuação solidária.
Este último "corte e não
corte" das pensões, que se "faz e não faz", é uma ondulação política
promovida pelo CDS, um outro episódio que o PSD aceita para disfarçar o
"mal-estar" interno e proteger o exausto Vítor Gaspar. Acontece que
só o governo não quer entender o que toda a gente já percebeu: o
primeiro-ministro perdeu o controlo e a legislatura está por um fio. Falta
apenas marcar a data das eleições, no outono ou no verão.
No fundo e no fim, os dois partidos
desafiam-se num controlo de danos, não a pensar no "pós-troika", como
alguém criativamente inventou, mas sim no "day after", nas posições
relativas de cada um, na oportunidade de ficar perto ou longe do futuro poder.
E isto é um comportamento lamentável.
O
primeiro-ministro não ouve ninguém, está isolado, refém do seu ministro das
Finanças, um homem atípico, sem ideologia, que erra todos os dias. Quando um
governo já nem os seus ouve, quando desvaloriza a opinião do Conselho Económico
e Social, as previsões da OCDE, os dados do INE, as advertências do Conselho de
Finanças Públicas ou os avisos matemáticos da UTAO, é porque o futuro já não
vai acontecer.
Quando
o governo rasgou unilateralmente todos os contratos sociais, quando já não quer
ouvir de “viva-voz” um FMI
que confessa ter subestimado os efeitos da austeridade na Grécia, bem como
“erros grosseiros” de avaliação na “receita” aplicada, e não tem um gesto de
humildade para reconhecer que estamos pior hoje, muito pior, do que há dois
anos, é porque temos um primeiro-ministro a quem falta grandeza de alma,
patriotismo!
A
comparação homóloga do 1º trimestre de 2013 revela que 1530 milhões de euros representam a queda do consumo e cerca de 1250
milhões de euros a quebra do investimento. No total a procura interna caiu
cerca de 2780 milhões de euros.
E o mesmo
exercício reportado aos últimos dois anos (entre o segundo trimestre 2012 e o
primeiro de 2013) dá-nos os seguintes valores: cerca de 13.000 milhões de euros representam a queda do consumo e cerca
de 9.500 milhões de euros a quebra do investimento. No total a procura interna
caiu cerca de 22.500 milhões de euros. Ao mesmo tempo, o emprego recuou
até aos anos de 1995, recuou 18 anos. A economia portuguesa está em debandada
geral. Que mais precisaria o primeiro-ministro para mudar de rumo?
Quando
o governo tem um primeiro-ministro que em delírio político invoca a sua
consciência, como algo que existe e pensa estar de boa saúde, e afirma o seu, “…muito orgulho no
trabalho que estou a fazer…”, temos de dizer que, apesar de tudo, este pesadelo tem solução e que o
primeiro-ministro ainda poderá ser útil ao país, se tiver o rasgo de dar o
primeiro passo para a sua saída e a saída voluntária do seu governo, em nome do
futuro e de uma nova esperança.
José Junqueiro
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