segunda-feira, 10 de junho de 2013

(PÚBLICO - opinião) Passos Coelho, Paulo Portas e o “day after”


Há uma inelutável crise política a envolver o drama social e a tragédia económica que o governo aprofunda todos os dias. A sua origem está na coligação, bem no seio do Executivo de Passos Coelho. Os dois partidos, desde Setembro de 2012, quando espontaneamente as pessoas saíram à rua para contestar a TSU, nunca mais restabeleceram os seus níveis de confiança e atuação solidária.
Este último "corte e não corte" das pensões, que se "faz e não faz", é uma ondulação política promovida pelo CDS, um outro episódio que o PSD aceita para disfarçar o "mal-estar" interno e proteger o exausto Vítor Gaspar. Acontece que só o governo não quer entender o que toda a gente já percebeu: o primeiro-ministro perdeu o controlo e a legislatura está por um fio. Falta apenas marcar a data das eleições, no outono ou no verão.
No fundo e no fim, os dois partidos desafiam-se num controlo de danos, não a pensar no "pós-troika", como alguém criativamente inventou, mas sim no "day after", nas posições relativas de cada um, na oportunidade de ficar perto ou longe do futuro poder. E isto é um comportamento lamentável.
O primeiro-ministro não ouve ninguém, está isolado, refém do seu ministro das Finanças, um homem atípico, sem ideologia, que erra todos os dias. Quando um governo já nem os seus ouve, quando desvaloriza a opinião do Conselho Económico e Social, as previsões da OCDE, os dados do INE, as advertências do Conselho de Finanças Públicas ou os avisos matemáticos da UTAO, é porque o futuro já não vai acontecer.
Quando o governo rasgou unilateralmente todos os contratos sociais, quando já não quer ouvir de “viva-voz” um FMI que confessa ter subestimado os efeitos da austeridade na Grécia, bem como “erros grosseiros” de avaliação na “receita” aplicada, e não tem um gesto de humildade para reconhecer que estamos pior hoje, muito pior, do que há dois anos, é porque temos um primeiro-ministro a quem falta grandeza de alma, patriotismo!
A comparação homóloga do 1º trimestre de 2013 revela que 1530 milhões de euros representam a queda do consumo e cerca de 1250 milhões de euros a quebra do investimento. No total a procura interna caiu cerca de 2780 milhões de euros.
E o mesmo exercício reportado aos últimos dois anos (entre o segundo trimestre 2012 e o primeiro de 2013) dá-nos os seguintes valores: cerca de 13.000 milhões de euros representam a queda do consumo e cerca de 9.500 milhões de euros a quebra do investimento. No total a procura interna caiu cerca de 22.500 milhões de euros. Ao mesmo tempo, o emprego recuou até aos anos de 1995, recuou 18 anos. A economia portuguesa está em debandada geral. Que mais precisaria o primeiro-ministro para mudar de rumo?
Quando o governo tem um primeiro-ministro que em delírio político invoca a sua consciência, como algo que existe e pensa estar de boa saúde, e afirma o seu, …muito orgulho no trabalho que estou a fazer…”, temos de dizer que, apesar de tudo, este pesadelo tem solução e que o primeiro-ministro ainda poderá ser útil ao país, se tiver o rasgo de dar o primeiro passo para a sua saída e a saída voluntária do seu governo, em nome do futuro e de uma nova esperança.
José Junqueiro

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