O governo fez saber, pela comunicação social, que no próximo conselho de ministros vai
discutir as propostas do PS. A primeira conclusão
é a de que o PS, afinal, sempre
teve propostas e, acrescento eu, feitas
há muito. A segunda, é a de que, pela primeira vez Passos Coelho admite um facto que sempre
negou e mandou negar. O desastre económico e a tragédia social da sua governação
a isso obrigam.
Outra novidade, após a frouxa remodelação, foi a introdução de apelos ao consenso, repetidos
até à exaustão. Têm contudo, uma nuance: o governo tomou as decisões e chama o PS para concordar com elas. Como referiu
ironicamente António Seguro, trata-se de uma
espécie de formulário governativo, já preenchido, em que o PS era
convidado a assinar de cruz. Um lamentável equívoco!
O PS quer uma renegociação
global das condições do memorando para que
Portugal possa cumprir as suas obrigações sem sujeitar todo um povo a
uma austeridade suicida. O governo riu-se e negou, mas a verdade é que a dita negociação está a acontecer, não porque fosse desejada, mas
porque os falhanços governamentais de todas as
metas a isso obrigam.
O governo obteve um abrandamento nos juros, porque o BCE
interveio, atitude que, desde o princípio o PS reclamara e Passos
Coelho sempre rejeitou, dizendo mesmo que seria perigosa. Tem agora mais tempo
para as metas do défice, porque não as cumpriu. Terá mais tempo nas maturidades,
porque falhou os objetos de crescimento e entrou em espiral recessiva. Terá mais tempo para pagar a dívida,
segundo as últimas notícias, porque não o consegue fazer de outra
maneira, como sempre o PS alertou.
Esta "evolução" resulta da pior das
razões: incumprimento e falhanço do governo em todos, mas todos, os objetivos e metas. A
mudança poderia ter resultado de uma
estratégia que o PS avançou, desde sempre, e agora não
é mais do que consequência de um caminho errado que nos mergulhou em mais recessão, maior destruição de emprego e mais
desemprego, trituração da economia e um devastador
desastre social.
Impõe-se, portanto, uma renegociação proativa e imediata evitando mais remendos que, por sua
vez, estão na origem de novos e inelutáveis buracos. Mais tempo para cumprir o défice, para pagar a dívida, para as diferir as
maturidades, com juros mais baixos, menos austeridade, maior investimento para
conseguirmos crescimento e emprego, é tudo isto que tem de ser
assumido sem pestanejar.
E, já agora, a devolução a Portugal de 3 mil milhões
de euros que o BCE arrecadou com o serviço da dívida, tal como já fez com a Grécia. O PS não exige, portanto, um
procedimento que já não tenha acontecido com outros.
Tudo isto teria evitado os cortes nos salários, reformas e prestações
sociais, IVA a taxas máximas e recessão económica. O governo e Passos
Coelho acordaram tarde e o consenso possível é o da sua saída, o mais cedo possível.
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