domingo, 28 de abril de 2013

(Opinião) O Governo que se transformou num hino à instabilidade

A estabilidade é um ativo gerador de confiança, sentimento indispensável para relançar um novo ciclo de recuperação económica. Foi em nome dessa estabilidade que o PS aprovou o Tratado Orçamental, introduzindo uma "Adenda" para o crescimento e emprego, que se absteve no OE 2012 e lançou dezenas de propostas na frente parlamentar e mais de trezentas e cinquenta iniciativas de alteração a propostas e projetos de lei. 
Foi ainda assim que o PS lançou as linhas de força de uma nova alternativa política à austeridade visando o apoio à economia, a renegociação do memorando, a ideia de mais tempo e menos juros, no respeito pelos compromissos internacionais, através do crescimento e emprego.
O governo desbaratou estas oportunidades que o PS lhe ofereceu. Chumbou cerca de 80% das propostas socialistas, sobretudo nas áreas da Economia e Finanças.  Rejeitou todas as medidas que enquadravam uma renegociação ou que davam prioridade ao apoio às PMEs e à internacionalzação da economia com vista a uma agenda para esse crescimento e emprego. 
Mais grave ainda, o Governo desvalorizou e negou todo o esforço do PS, começando por negar qualquer diálogo e hostilizando intensamente o Secretário-Geral do PS, António José Seguro. Foi ainda mais longe e teve o atrevimento de alterar por sete vezes o memorando que tinha sido assinado com a Troika sem dizer nada ao PS, às oposições e à própria Assembleia da República. Fez o mesmo com o Documento de Estratégia Orçamental (um PEC da maioria) e, em Setembro último, decidiu cortar mais de 4 mil milhões nas políticas sociais. O Governo decidiu sempre sozinho.
O diálogo que, em desnorte político, agora pede ao PS resume-se a uma assinatura para uma espécie de formulário que mais não é do que um novo e musculado pacote de austeridade. E, ironia do destino, o diálogo que o Governo pede aos outros não acontece no seio do próprio Governo, nem entre os partidos que formam a coligação e suportam a maioria. 
Pior, esse desentendimento caiu na  praça pública, sempre a partir de fugas de informação orientadas por diversos ministros que mais não visam do que a reserva pessoal, tentativa de proteção política e partidária de um dos parceiros e, superlativamente, a contestação ao ministro das Finanças e contrução do seu caminho de saída do Governo.
É este quadro de desorientação política que permite explicar uma remodelação em duodécimos, que dá dimensão à insanável guerra interna na maioria, que explica a ausência de um novo caminho para além da Troika e da austeridade, e que nos deixa ver um governo que se transformou num hino à instabilidade!

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