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Por Rita Tavares, publicado em 13 Abr
2013
Primeiro mandato começou calmo e terminou
em censura, o que afastou Seguro de Cavaco. Socialistas reclamam iniciativa
presidencial
António José Seguro sai deste fim-de-
semana reeleito líder do PS. As directas não são tão disputadas como se chegou
a esperar em Fevereiro - com o desafio ponderado por António
Costa - e o actual líder seguirá mandato. A principal diferença nesta nova era
de Seguro será nas relações institucionais. A moção de censura apresentada na
semana passada consumou a ruptura com o governo e distanciou Seguro da linha de
“entendimentos” de que o Presidente da República era o grande promotor.
Quando iniciou funções, em 2011, António
José Seguro sentiu desde logo o peso de uma oposição interna muito marcada,
composta pela ala socrática e outra corrente, mais à esquerda, sobretudo
desconfortável com as aproximações ao governo.
Manifestou-se de forma clara quando o PS
decidiu votar a favor do Tratado Orçamental Europeu, pouco tempo depois da
“abstenção violenta” no Orçamento do Estado para 2012. Preso ao Memorando da
troika, a margem para fazer oposição esteve sempre encurtada e Seguro forçou
agora a ruptura, insistindo na narrativa de que o PS tentou vários encontros de
propostas com Passos Coelho e foi ignorado. Mas a ruptura arrastou um
afastamento com Belém.
No sábado passado, depois da decisão do
Tribunal Constitucional, Passos esteve com o Presidente e saiu confortado por
uma declaração de legitimidade do governo. Cavaco também reforçou a necessidade
de entendimento voltando, uma vez mais, a sublinhar que uma maioria absoluta
não chega.
Directamente com o PS, Cavaco Silva não
tentou nada e desta vez Seguro não tomará a iniciativa. “Ele pode e deve chamar
o líder do PS”, diz ao i o vice da bancada parlamentar José
Junqueiro, estranhando que Cavaco ainda não tenha feito nada neste sentido. “O
Presidente está de mãos atadas. Criou este governo, decidiu enviar o Orçamento para
o Constitucional e depois da decisão nada fez”, acrescenta.
Tal como o i noticiou no
início desta semana, o chefe de Estado não tenciona tomar qualquer iniciativa -
além de declarações pontuais - sobre esta ruptura política. Aliás, Cavaco Silva
deixou bem claro o que pensa deste afastamento quando, já com a moção de
censura anunciada e na véspera da sua apresentação, repudiou “jogos
partidários”.
Até agora, os encontros públicos entre
Presidente e líder da oposição foram sempre pedidos por Seguro. Mas agora, no
PS, reclama-se acção do Presidente.Em entrevista ao i, nesta
edição, Mário Soares é uma das vozes que o pedem, se bem que o ex-Presidente
defenda uma acção ainda mais profunda: um governo de iniciativa presidencial.
Coisa repudiada por Seguro, que só admite lá chegar com eleições.
Com Passos, os encontros institucionais
eclipsaram-se desde Novembro passado. O último que aconteceu já foi duro, com a
reforma do Estado na agenda e depois de o líder do PS ter enviado uma carta a
Passos. O afastamento começou precisamente com esse tema.
Mas há uma peça no governo cuja
intervenção o PS tem registado, sobretudo no parlamento, nos últimos tempos: a
do CDS, parceiro de Passos na coligação.Ainda no debate da moção de censura, o
ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, disse que “quer o governo
quer o PS têm a essencial responsabilidade de contribuir para o interesse
nacional e para o bem do país”, criticando a “crispação política” actual. E
antes disto o mesmo Portas já tinha aberto a porta a ponderar algumas das
propostas do PS, mas Passos fechou-a.
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