sexta-feira, 15 de março de 2013

Pacheco Pereira:Troika e Governo: substituir uma ilusão por outra

Estamos há 2 anos a discutir sempre as mesmas coisas e a questão que se coloca é outra: as pessoas estão a desprezar o barril de pólvora que neste momento é Portugal em 2013; porque não fazem entrar nas suas análises económicas que (a actual situação) não é governável em democracia, por um período de tempo em que nos dizem que vai durar esta crise, defendendo que as próximas eleições vão ser ganhas por quem propuser o fim deste programa de austeridade, ou a sua suavização, mesmo que não faça muito diferente.
Os responsáveis não podem ignorar os efeitos, na economia e na sociedade, do processo de empobrecimento, profundamente perturbador da normalidade. Basta que o processo atinja uma década ou mais do que uma década e não dará para esperar que uma sociedade que está amorfa e apática dê um salto; por isso, considera ridículos os esforços do governo em voltar aos programas maciços de investimento na construção civil, depois de ter morto grande parte do tecido desse sector.
Enquanto não tivermos uma elite política, económica e financeira que compreenda que não há apenas variantes macroeconómicas, não se pode resolver o problema português; não é possível acontecer o que "eles" prevêem que aconteça e estar a desagregar o tecido social de uma forma que não devia ter ido tão longe como foi; "não aguentamos", porque o empobrecimento destrói o tónus da sociedade, nem isso se pode dizer a partir de uma posição de poder.
Observa-se a substituição de uma ilusão (com o cumprimento do programa dávamos um salto para começar a crescer, com um país mais moderno) por outra (de que a Europa mudou, a troika mudou e o governo tornou-se mais reivindicativo e vai conseguir coisas que não conseguiu antes); não sabe se o governo é mais reivindicativo ou se foi a constatação de facto de que não cumpriu défices, a recessão foi pior e o desemprego foi mais elevado que o previsto; a troika avalia-se a si mesma ao mesmo tempo que avalia o governo e não vai chumbar-se a si própria
Como já se percebeu que os efeitos da aplicação do memorando deu resultados muito negativos, haverá, com certeza, uma moderação, mas que não resolve problemas de fundo nenhuns; e uma coisa que não tem sido dita, é que as mudanças profundas no memorando não são fáceis, têm que ir a votos no parlamento alemão

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