Texto de Ricardo Araújo Pereira |
Síntese - ESCREVE CAVACO SILVA - "O que terão pensado os meus alunos da Universidade ao ouvirem o primeiro-ministro (António Guterres) e o ministro das Finanças afirmarem perante as câmaras de televisão precisamente o contrário do que lhes ensinei e que leram nos livros de macroeconomia e de finanças públicas?
Porque estamos em época de exames, entendi que era meu dever não ficar calado. O argumento é falso." E acrescenta, para ilustração dos seus alunos:
"Quando o crescimento económico de um país abranda, a política correcta é precisamente deixar que a receita fiscal baixe automaticamente e não cortar na despesa pública. (...) Se quando um país é atingido por uma crise económica se cortasse a despesa pública, a crise ainda se agravava mais. É por isso que não se deve fazê-lo."
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Não sei se o leitor se
lembra de um político que foi, em tempos, bastante proeminente em Portugal.
Chamava-se, salvo erro, Aníbal Cavaco Silva. Parece-me que era isto. Durante
algum tempo, esteve muito presente na vida portuguesa. Depois, foi tendo cada vez
menos intervenção, e limitava-se a emitir algumas mensagens curtas através
daquele sítio da Internet que foi inventado por um adolescente americano com o
objectivo de falar com os seus colegas e amigos acerca das suas colegas e
amigas. Mas, nos últimos tempos, o político de que lhe tenho estado a falar
desapareceu. Uma vez que ninguém parece interessado em avisar as autoridades,
permitam-me que lance eu aqui o alerta do costume:
Desapareceu de seu palácio
Aníbal Cavaco Silva. Quando foi visto pela última vez, vestia fato escuro e
gravata azul. É de estatura média e em princípio não dispõe de meios
financeiros para se deslocar ou garantir o seu sustento, uma vez que, segundo
se sabe, a reforma não lhe chega para as despesas. Se alguém possuir
informações que nos possam levar ao seu paradeiro, por favor contacte a Polícia
de Segurança Pública.
Está feito. Resta-nos
aguardar. Enquanto esperamos, recordemos algumas das suas opiniões mais
interessantes, emitidas no tempo em que ele verbalizava pensamentos.
A jornalista Ana Sá Lopes topou esta semana, por acidente, com um
livro de Cavaco Silva. E, por abnegado sentido profissional, leu-o.
Beneficiamos todos do seu sacrifício, porque a jornalista citou um texto de
2001 em que o autor se insurge contra o então primeiro-ministro António
Guterres, que pretendia cortar na despesa pública para fazer face à diminuição
do crescimento económico. Escreve Cavaco Silva: "O que terão pensado os meus
alunos da Universidade ao ouvirem o primeiro-ministro e o ministro das Finanças
afirmarem perante as câmaras de televisão precisamente o contrário do que lhes
ensinei e que leram nos livros de macroeconomia e de finanças públicas? Porque
estamos em época de exames, entendi que era meu dever não ficar calado. O
argumento é falso." E acrescenta, para ilustração dos seus alunos:
"Quando o crescimento económico de um país abranda, a política correcta é
precisamente deixar que a receita fiscal baixe automaticamente e não cortar na
despesa pública. (...) Se quando um país é atingido por uma crise económica se
cortasse a despesa pública, a crise ainda se agravava mais. É por isso que não
se deve fazê-lo."
Em 2001, o professor
Cavaco Silva tinha o dever de não ficar calado, para que os seus alunos não
fossem induzidos em erro. Em 2012, tem estado
bastante silencioso perante o mesmo problema. A pedagogia sobrepõe-se à
democracia, o que é surpreendente e desagradável - mas, felizmente, tem fácil
solução. Se todos os portugueses se matricularem num curso de economia, talvez
o Presidente da República intervenha, para que o Governo não nos imponha uma
solução que qualquer economista considera desastrosa. Se, em vez de cidadãos,
formos alunos, talvez tenhamos direito a uma palavrinha.
Confesso que nunca votei
em Cavaco Silva. Normalmente, o que me afasta de Cavaco são divergências
ideológicas. Desta vez, o que me impede
de votar nele são as leis da física: não me é possível votar, em 2012, no
Cavaco de 2001. Mas talvez este nos desse jeito, agora
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