sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ACOSTA, PPEREIRA,LOBO XAVIER - NO FUNERAL DO GOVERNO

Síntese - Pacheco Pereira- Isto não é governação, o PM e o MF perderam completamente a face...Se tivéssemos governo, só apresentaria medidas fechadas... A maneira como a FP está a ser tratada atenta contra a dignidade de qualquer pessoa.O PR não pode deixar correr as coisas. Lobo Xavier -  Este nível de desinformação dentro do governo (pelo MF) só pode partir de uma pessoa que tem completo desprezo pela política e pelas consequências do que é anunciado...O PM não tem a informação, não a procura e não a comanda; não podemos admitir ao MF o falhanço das previsões, grosseira; António Costa -quando o governo já está neste nível de relacionamento é evidente que há um problema, havendo já várias apostas sobre quando é que se dissolve.
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(Qualidade da governação) - Pacheco Pereira:
Não há governo em Portugal, há actos avulsos e contraditórios. Nos últimos dois meses, Passos Coelho anunciou a retoma da situação económica para 2013, pouco tempo depois fez aquela declaração sobre a TSU como principal medida de reanimação económica e a partir desta altura (quando já havia uma guerra civil à volta da TSU) recuou-se para medidas de natureza completamente diferente; o discurso da substituição da TSU é uma mentira, o que se veio trazer foi um novo pacote de austeridade, que provavelmente acabaria por existir na mesma, em complemento. As propostas apresentadas pelo MF (fim do período de transição no IMI, enorme aumento de impostos) foram-no em tom taxativo, como sólidas, aprovadas e adquiridas; e depois de uma nova série de protestos e de mal estar, o governo passou a ter um novo discurso, que também é uma mentira, de que está a fazer um enorme esforço de corte na despesa e um aumento mais moderado das tabelas do IRS (imaginado-se como seriam as anteriores).
Isto não é governação, o PM e o MF perderam completamente a face e toda a gente percebe a fraqueza do governo. Se tivéssemos governo, este só apresentaria medidas quando estivessem fechadas, estudadas e consolidadas. Isto significa que muito provavelmente não vamos conseguir controlar o défice este ano. A maneira como a FP está a ser tratada atenta contra a dignidade de qualquer pessoa.
O PR não pode deixar correr as coisas e não tem dúvidas de que está altamente preocupado com esta situação, que parece o governo de Santana Lopes na fase final.
Estamos a aproximar-nos de um impasse político grave, em que no actual contexto as eleições dificilmente são uma solução razoável.
O PR será inevitavelmente chamado ao processo, tendo uma última cartada possível que é chamar os 3 principais partidos para encontrar uma solução à volta do memorando e em torno de uma acordo parlamentar; uma hipótese de governo de salvação nacional, que não seria a solução ideal, com muitos aspectos perniciosos, mas de emergência, teria que ser feito sem as personalidades dos partidos, durante a vigência do memorando, havendo eleições terminado este período.

António Lobo Xavier:
Algumas coisas, quanto à qualidade da governação, são ainda mais graves do que diz Pacheco Pereira. Crê que quando Passos Coelho está a anunciar em Agosto que Portugal está no bom caminho, está a utilizar a informação de que dispõe e que ao utilizar este nível de desinformação, há um problema de coordenação no governo total e brutal; problema que estende a Portas, que fez afirmações impossíveis de serem suportadas pelo MF. Este nível de desinformação dentro do governo (pelo MF) só pode partir de uma pessoa que tem completo desprezo pela política e pelas consequências do que é anunciado (dando exemplo do anúncio da TSU, um comportamento político incompreensível, quando tinha um plano gravíssimo de somaria à TSU).
O PM não tem a informação adequada, não a procura e não a comanda; não podemos admitir ao MF o falhanço das previsões, grosseiras, mesmo sabendo que o próprio FMI falha com uma desfaçatez chocante.
Uma situação deste tipo está a aproximar-se do limite e não são os "planinhos" do PS, umas "coisitas" de reabilitação urbana e um banco sem análise de risco, que podem resolver a situação (dizendo, num aparte, fazer-lhe impressão que António Costa, às vezes tão crítico da sua direcção, compre uns "projectitos" feitos por Zorrinho e Seguro, que não valem nada, sem lhes discutir o valor).
A situação só se resolve com a alteração da relação com a Europa e do comportamento do governo com a troika e Bruxelas, o único golpe de asa que este governo pode ter.
Uma situação de tricheiras (uma de Portas, outra de Gaspar, com Passos sem saber bem onde estar) não é uma solução que possa perdurar, mas Portugal também não aguenta uma crise política.

António Costa:
É preciso ver os sinais de degenerescência da base política do governo, sendo muito claro o que aconteceu na TSU e no IMI, com a expressão "enorme aumento de impostos" a ter sido uma vingança do MF em relação ao CDS; quando o governo já está neste nível de relacionamento é evidente que há um problema, havendo já várias apostas sobre quando é que se dissolve. O quadro político é muito difícil porque o próprio PR já não está em condições políticas para gerir a situação. Há a hipótese de um movimento interno no PSD para uma outra alternativa, mas não sabe se é possível ou desejável. Um solução que passe por eleições é também muito complicada, com poucas garantias de que sairia uma solução maioritária alternativa (provavelmente um governo minoritário do PS).
Tivemos um clima de diálogo social até há poucas semanas (mesmo com a CGTP muito prudente), sendo preciso aproveitar essa oportunidade e essa capacidade.
O problema é que o debate na Europa está a existir e Portugal não só se põe de fora, como quando é chamado a pronunciar-se fá-lo no sentido contrário ao interesse nacional e por convicção.
O tempo em que o memorando podia ser o programa exclusivo da acção do governo passou; hoje o país precisa de mais, precisa de expectativa e sentido de futuro. A margem dos instrumentos de consolidação está esgotada e falta a dimensão que não está no programa, falta um novo programa para o governo de Portugal

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