O ano de 2011 terminou com um défice de 4,2%,
bem mais abaixo dos 5,9 acordados com a Troika. Ficou a ideia de que as metas
de 4,5% para 2012 e 3% para 2013 seriam exequíveis. O governo cobrara
mais do que o necessário e foi assim que os portugueses chegaram ao Natal com
dinheiro a menos e Vítor Gaspar com dinheiro a mais, cerca de 3 mil milhões de “superavit”
no seu "bom caminho"!
António Seguro disse ao Primeiro-ministro que
ter ido para além da Troika fora uma imprudência, que a austeridade se revelara
excessiva, ultrapassara largamente as exigências do memorando e avisou que
muito rapidamente poderíamos entrar numa espiral recessiva e num aumento
exponencial do desemprego.
O governo respondeu com a subida do IVA para
a taxa máxima de 23% na luz, no gás, na restauração, diminuiu e congelou
salários, "confiscou" subsídios de férias e Natal, tudo para além do
memorando e até da Constituição, como se viu. Cruzou os braços perante a
indisciplina no preço dos combustíveis, esqueceu a promessa da rede "low
cost", travou o investimento nas energias renováveis, ignorou o apoio ao
financiamento da economia e à sua internacionalização.
O PS não gostou e não se ficou pelas
palavras. Exigindo ao governo "outro
caminho" apresentou-lhe mais de 350 propostas alternativas e a
negociação de mais tempo, pelo menos mais um ano, para a consolidação das
contas públicas, dando mais oportunidade à economia, ao crescimento e ao
emprego.
O governo respondeu chumbando a esmagadora
maioria, cerca de 90%, sobretudo nas áreas sensíveis da economia, finanças,
educação, trabalho e emprego. Passos Coelho e os “doze apóstolos” (António
Borges incluído), revelaram desinteresse pelo país real e desprezo pelo
sofrimento das famílias. "Custe o que custar" foi o caminho
escolhido.
Foi assim que em 2012 chegámos a um desemprego
inédito, superior a 15%, a um aumento de 47% nas falências, 500 empresas por
dia, a mais 205 mil desempregados do que em 2011, a uma recessão histórica,
superior a - 3%, a uma economia parada e a 100 mil portugueses, na sua maioria
jovens superiormente habilitados, empurrados para a emigração.
Foi assim que caíram as receitas fiscais nos combustíveis
e nos automóveis, e houve menos IVA, menos IRC; apenas mais IRS, dinheiro das
famílias a quem a banca está a leiloar diariamente 120 casas que tinham
comprado com o seu trabalho.
O ministro das finanças, esse equívoco
emocional, sempre a dez à hora, mesmo assim estampando-se em todas as suas
previsões, lá veio dizer, pleno de impudência, que estava surpreendido com o
desemprego e até com a quebra das receitas fiscais.
Não convenceu ninguém, nem mesmo Manuela
Ferreira Leite que, com fina subtileza, até com alguma religiosidade, dizendo-se
“mulher de fé”, já há muito confessara que esta austeridade não levaria a lado
nenhum.
Não há desculpas. Não foi por falta de aviso
e propostas do PS que haverá derrapagem do défice e que a execução do OE 2012 e
o ministro das Finanças se constituíram no equívoco orçamental de Passos Coelho.
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