É
curioso que a discussão, neste momento, se dirija ao OE 2013 sem cuidar dos
resultados da atual execução orçamental e das suas consequências. Até parece
que não tem importância nenhuma, mas não é assim.
Quando
em 2011 o ano terminou com um défice de 4,2%, bem mais baixo do que os 5,9%
exigidos pelo memorando da Troika, percebeu-se que a meta de 4,5% para
2012 e a de de 3% para 2013 seriam dados
adquiridos. Penso que os portugueses aceitaram os sacrifícios impostos com base
nessa expetativa.
Acontece
que as ultimas notícias, das entidades nacionais e internacionais, são
preocupantes, porque apontam para uma derrapagem de todos os cálculos do
governo, mesmo depois deste os ter corrigido várias vezes.
Dir-se-ia,
como o governo ultimamente tanto insiste, que há uma crise internacional, a
mais severa destes últimos 80 anos, tal como há dias referia na televisão o
nosso conterrâneo Alvaro Santos Pereira, ministro da Economia, e que isso
justifica as dificuldades.
É
verdade, mas isso já dizia o eng. Sócrates há um ano. Esse facto conduziu-o ao
célebre PEC IV, aprovado por todos os
chefes de estado e de governo, pelo BCE, Comissão Europeia e chumbado logo a
seguir pela nossa AR, sob a liderança do PSD, para espanto de toda a Europa.
Diziam,
então, o PSD e o CDS exatamente o contrário. A crise era interna,
exclusivamente portuguesa e socialista e que o tal PEC IV, de saudosa memória,
era excessivo, pedia muitos sacrifícios aos portugueses. E foi assim, tal e
qual, o que disseram. E os portugueses acreditaram e dirigiram o seu olhar para
a esperança que a direita lhes prometia.
Estamos
todos defraudados. Afinal a crise, agora, já é internacional, multilingue, mas
as medidas impostas por Passos Coelho e Paulo Portas são incomparavelmente mais
dramáticas, foram mesmo para além do que era exigido pela Troika.
E
o que resultou de tudo isto? Uma crise política a somar à crise económica, um
Presidente da República com popularidade instalada no "ground zero",
um desemprego estatístico oficial de 15%, um outro global e real de 23%, mais
205 mil desempregados do que em 2011, tendo já perdido direito a subsidio mais
de 50%; um aumento de 47% nas falências, uma recessão histórica superior a -3%,
uma economia parada com total ausência de medidas para o seu financiamento e
internacionalização.
E,
espantem-se, o défice será superior ao de 2011, talvez não cumpra as metas
deste ano nem do próximo, ficámos sem subsídios, pagamos o IVA a 23%, temos
energias mais caras, pararam-se todos os investimentos e vemos a nossa
juventude emigrar.
Portanto,
é melhor não comentar o que não se conhece, o OE 2013, e refletir sobre o que
está a acontecer, sobre o mundo real em que vivemos, sobre o que nos está a
acontecer, porque tudo isto, para já, significa que os portugueses cumpriram e
que só o governo falhou.
DV 2012.08.22
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