quarta-feira, 1 de agosto de 2012

D. ECONÓMICO: PARA DECIDIR SOBRE OE 2013 - PS EXIGE A PASSOS MUDANÇA DE RUMO


Márcia Galrão
Seguro recusa sentar-se com Passos Coelho para negociar Orçamento do Estado para 2013 antes de o Governo apresentar o documento oficialmente.
Seguro recusa sentar-se com Passos Coelho para negociar Orçamento do Estado para 2013 antes de o Governo apresentar o documento oficialmente.
Consolida-se no partido de Seguro a ideia de que o Orçamento de 2013 é para chumbar, sem medo das consequências na imagem externa de Portugal.
Existem já poucas dúvidas no PS de que o Orçamento do Estado para 2013 será o momento que a direcção de António José Seguro aguardava para romper com o consenso político resultante do memorando da ‘troika'. O voto contra o exercício orçamental do próximo ano é dado como praticamente incontornável no secretariado nacional, na direcção parlamentar e entre vários deputados ouvidos pelo Diário Económico.
A não ser que o Governo mude radicalmente de caminho, o que não se espera no PS, a ordem de Seguro será para chumbar o documento. Para o justificar, o partido apresentará um conjunto de medidas que garantam o mesmo equilíbrio orçamental daquelas com que não concordar.
Segundo apurou o Diário Económico junto de dirigentes do partido, o PS está a trabalhar já no cenário de chumbo e recusa sentar-se antecipadamente com o Governo, com o argumento de que não é, nem quer ser, "co-autor" do documento, tal como admitiram o líder do PS e o líder parlamentar Carlos Zorrinho. 
Para a direcção de Seguro, o Orçamento do Estado para 2013 é o momento ideal para os socialistas se desvincularem do memorando a que tem estado amarrado, começando assim uma nova fase: a de uma oposição "livre" de compromissos e "livre" para decidir em função do que realmente pensa ser o melhor para o país.
Publicamente, adensam-se as vozes a admitir esse voto contra. Primeiro foi Pedro Silva Pereira que, em entrevista ao Económico, disse que o PS não pode excluir um chumbo ao Orçamento. 
Isto depois do sociólogo António Barreto ter dito, também ao Económico, que um afastamento entre PS e PSD poderá significar "novas pressões internacionais nos mercados" e que, por isso mesmo, o PS devia até "votar a favor, a abstenção é curta", considerou
Entre os socialistas este argumento já não é válido. José Junqueiro, da direcção parlamentar, diz ao Económico que o Governo "começa a consolidar a ideia de que quer seguir sozinho e que se tem maioria suficiente para aprovar o Orçamento, também tem para influenciar a percepção externa de Portugal". Sem inflexão na política de Passos Coelho, o recado dos socialistas está definido: "boa viagem", diz Junqueiro.
No frente-a-frente com o líder parlamentar do PSD (na edição de ontem do Económico) Luís Montenegro, o líder da bancada rosa, Carlos Zorrinho garantiu que, este ano - e ao contrário do que aconteceu no Orçamento para 2012, em que o PS decidiu abster-se "independentemente da qualidade intrínseca do orçamento" - os socialistas vão avaliar o "valor intrínseco do documento e ele pode valer o voto a favor, a abstenção ou o voto contra".
José Lello, um dos deputados do PS que em 2011 defendeu já o voto contra o Orçamento para este ano, aplaude agora a decisão de chumbar as contas do Governo, mas critica aqueles que no passado "tudo fizeram para bloquear essa intenção". Apontando o dedo à liderança de Seguro, Lello considera que esta atitude de ruptura por parte do PS "vem com atraso" e que com o OE/2012 "o país já seguiu para um beco sem saída". Por isso, não tem dúvidas de que, "a menos que o OE/2013 seja uma inflexão na política para melhor, não há razão para que não se chumbe". Também Isabel Moreira disse ontem ao DN que se o Governo "continuar neste caminho", o voto do PS deve ser contra. Francisco Assis também já defendeu esta possibilidade.
A destoar só mesmo Vital Moreira. Em entrevista ao "Jornal de Negócios", o eurodeputado do PS diz que um voto contra "correria o risco de ser interpretado como um voto contra a consolidação orçamental" e o partido "não deve correr [esse] risco". Mas o Económico sabe que a liderança de Seguro não pensa assim e acha que a hora de correr esse risco chegou. A forma de o minimizar está a ser estudada e passará, à partida, por apresentar alternativas a medidas de austeridade com o mesmo equilíbrio orçamental.
As vozes socialistas
António José Seguro - Secretário-Geral do PS
O líder do PS não exclui o voto contra ao Orçamento do Estado para 2013 e garante que o partido só tomará uma posição oficial depois de conhecer o documento. Carlos Zorrinho - Líder parlamentar do PS "Vamos avaliar o orçamento pelo seu valor intrínseco. Ele pode merecer o voto favorável, a abstenção ou o voto contra", disse em entrevista ao Diário Económico. Pedro Silva Pereira - Ex-ministro do PS "O OE 2013 deve ser avaliado pelos seus méritos e deméritos (...) mesmo que isso signifique votar contra", admitiu em entrevista ao Diário Económico. José Junqueiro - Vice-presidente da bancada do PS "O Governo começa a consolidar a ideia de que quer seguir sozinho, nós dizemos-lhe ‘boa viagem'", admite o vice-presidente ao Diário Económico. José Lello - Deputado do PS "A direcção do PS conclui agora que a abstenção é curta para ser contra esta política. Eu aplaudo, mas digo que essa atitude vem com atraso", refere. Vital Moreira - Eurodeputado do PS "Um voto contra correria o risco de ser interpretado como um voto contra a consolidação orçamental (...) e o PS não deve correr esse risco.", disse ao Jornal de Negócios. Francisco Assis - Deputado do PS "Se não houver nenhuma modificação de comportamento da actual maioria parlamentar o PS deve votar contra o próximo Orçamento", disse à Renascença. Isabel Moreira - Deputada independente do PS "Se o Governo continuar neste caminho com políticas que só aumentam a recessão, o desemprego, então o PS deve votar contra", disse ao DN.

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