sexta-feira, 15 de junho de 2012

“A EXIGÊNCIA TEM QUE SER FEITA AO LONGO DO ANO E NÃO NUM EXAME”

As provas de matemática e português tiveram resultados negativos e inimagináveis. Dois diários de referência dizem mesmo que foram “os piores dos últimos quatro anos. “ A português, um em cada cinco alunos chumbou no teste”. A matemática as “negativas dispararam de 19% para 43%”, relativamente a 2011. “Alunos do 4º e 9º ano não sobrevivem às provas de matemática”.
E era difícil sobreviver. Presumo que depois da campanha demagógica contra um dito “facilitismo” no ensino, levada a cabo na oposição pelos partidos que hoje são governo, PSD e CDS, a estratégia foi no sentido de fazer provas “mais difíceis”. Gostava muito de saber se isto levou a alguma conclusão e se o “gabinete de avaliação” fez o que devia.
Lembro-me muito bem do “senhor professor Carvalho”, na escola da Avenida. Tive o privilégio de ser seu aluno. Contra a corrente não tinha por hábito dar reguadas, bofetadas ou canadas. Impunha-se pela sua categoria, por aquela imagem amiga, voz cândida, com um sorriso ou com o sobrolho mais carregado para nos chamar à “ordem”.
Lembro-me de como ele me preparou para o exame do 4º ano. Começávamos as aulas de manhã e continuávamos à tarde. Tínhamos um intervalo, lanche e brincadeira no recreio. A seguir ficávamos para responder às perguntas de história, matemática, geografia, ciências e todas as matérias curriculares.
Usava papelinhos retangulares, com questões distintas, que passava de carteira em carteira. Não havia hipótese de copiar. E, depois, lá pelas “8 da noite” íamos para casa. Éramos preparados e avaliados e o próprio, em função dos resultados dos seus alunos no exame da “4ª”, também era avaliado.
O meu pai também me ajudava. Antes de concorrer e entrar para funcionário das “Finanças” fora professor primário. Era um contributo inestimável. Lá tinha que dizer todas as partes do corpo humano, os rios e as montanhas, os nomes dos reis de Portugal, fazer as “contas” ou seja, resolver os problemas de matemática. Era a escola, a família, os professores, os funcionários, toda a comunidade a trabalhar para o mesmo: a nossa educação.
Acontece que estes maus resultados, agora publicitados, não significam que os alunos são “todos uns destituídos”. Muito longe disso. Sempre me senti incomodado quando via um colega, professor, com 50% ou 60% de chumbos na sua cadeira. Isso quer dizer que o professor é "mauzão"? E se for, significa que é bom professor? Isso quer apenas dizer que alguma coisa estava errada no processo de ensino-aprendizagem. O insucesso também é deles.
Uns dizem que os alunos vêm mal preparados do “liceu”, alguns do “liceu” dizem que vêm mal preparados da escola, quando na verdade estamos todos nós mal preparados por não fazer o que devíamos, famílias incluídas, e a passar culpas de uns para os outros sem assumir as nossas responsabilidades. E são muitas!
O governo, especialmente o ministro da educação, também teve nota negativa, sobretudo por ter consentido, em nome não sei de quê, provas que não respeitaram o princípio da proporcionalidade. Alguém comentava no facebook que “A exigência tem que ser feita ao longo do ano e não num exame”

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