quarta-feira, 2 de maio de 2012

O PRESIDENTE, O PS E UMA DÉCADA DE SUCESSOS (hoje, no "I", a minha opinião)


"Há outro caminho". A afirmação corresponde, há muitos meses, a uma tese que o secretário-geral do PS, António José Seguro, tem vindo a demonstrar: é preciso mudar de rumo. Os resultados negativos das opções políticas deste governo impõem um novo olhar, capaz de incluir as pessoas e o direito ao seu reencontro com a esperança e a confiança.
Nas cerimónias do 25 de Abril, na Assembleia da República, António José Seguro obteve um apoio de peso: o do Presidente da República. Cavaco Silva falou de um país diferente, de portugueses capazes e de uma década de sucessos. Falou e deu exemplos, muitos exemplos.
Para quem estivesse a sucumbir à diabolização que o governo tem vindo a fazer dos "últimos anos", o Presidente da República colocou um ponto final nesse argumentário depressivo. Procurou demonstrar que há outro caminho e fez a sua autocrítica, tarde, é certo, mas fez. E este novo rumo, a ser sincero, deve ser apoiado e não criticado.
O governo tem, agora, oportunidade de se concentrar no futuro, nas soluções, e abandonar a estigmatização do passado, qual porto de abrigo, onde tem vindo a refugiar a incapacidade das suas políticas. É tempo de aproveitar, e não "malbaratar", como disse Carlos Zorrinho, a disponibilidade do PS e dos parceiros sociais para construir políticas de compromisso centradas nas pessoas, no crescimento económico e no emprego.
A imagem externa de Portugal, a afirmação da sua credibilidade, é de facto um caminho, outro, que nunca deveria ter sido abandonado. Foi essa a aposta de Mário Soares, Jorge Sampaio, de António Guterres ou de José Sócrates, e é esse o caminho que António Seguro quer reafirmar e que o Presidente da Republica toma como bom, e como certo, para "um novo ciclo".
Porquê esta mudança do Presidente, todos se perguntavam nos corredores? Vejo três razões importantes.
A primeira respeita à sua popularidade. Quando as sondagens o colocam a 2% de Jerónimo de Sousa, pode ser bom para o líder do PCP, mas péssimo para o mais alto magistrado da nação. Nunca nenhum dos seus antecessores passou por essa experiência, porque nunca deixaram de ser a voz do povo que os elegeu diretamente.
A segunda deve-se ao reconhecimento da "impossibilidade" de Portugal sobreviver à crise internacional num clima de crispação política. A oposição, hoje governo, sabe bem - como ilustrou o ministro das Finanças, a propósito do corte nas "gorduras do Estado" - que "é mais fácil dizer do que fazer".
As investidas políticas alucinantes contra o então recente governo socialista foram, na verdade, pedras de arremesso contra o país. Há um ano até o próprio Presidente defendia a "bondade" das "agências de rating". E, há um ano, dizia ser preciso "falar verdade aos portugueses", mas só agora isso aconteceu na plenitude. Já, na altura, Ramalho Eanes criticara o discurso de posse do Presidente por ter "ignorado a crise internacional", porque, como então disse, não se pode "atribuir a culpa só ao governo".
A terceira e última razão é mais estratégica. Este governo é de "iniciativa presidencial". Nasceu de uma crise política que o Presidente fez deflagrar a 9 de Março. Para o bem e para o mal, está inelutavelmente ligado ao que por aí vem, mas, já no presente, assina com este governo as dificuldades extremas, muitas vezes tão exageradas como desnecessárias, lançadas contra a economia, as empresas, as pessoas e as famílias.
Quis evitar falar da crise, das questões internas, da governação. E foi por isso que o Presidente, no discurso, se decidiu, como mal menor, pelo reconhecimento de que esta foi uma "década de muitos sucessos" e pela tentativa de reconciliação com o PS.

I, 2012/04/25
José Junqueiro (vice-presidente do GP PS)

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