O PSD chumbou na AR o “protocolo adicional” ao Tratado Orçamental apresentado pelo PS. Fez mal, porque definia com clareza as orientações estratégicas de uma agenda para o crescimento e emprego.
O texto tinha sido apresentado por Carlos Zorrinho aos líderes europeus dos partidos socialistas e social-democratas que o acolheram como um “outro caminho”, alternativo, às políticas de austeridade e constrangimento que conhecemos e cujos efeitos sentimos com inusitada intensidade. Recebeu contributos e rapidamente foi assumido como orientação estratégica comum.
Foi um passo decisivo para o regresso da Europa à política dos valores e das pessoas. François Hollande deu cor e vida ao projeto na sua campanha eleitoral e comprometeu-se com os franceses nessa agenda para o crescimento e o emprego. António José Seguro via triunfar lá fora aquilo que a maioria de direita negou cá dentro.
A vitória socialista em França fez despertar o governo, sobretudo o PSD. E eis que, esta semana, apresenta um projeto de resolução pífio, pleno de generalidades e vazio de propostas, para “deitar mão” ao tema do crescimento e emprego. Queria, no fundo, redimir-se perante a opinião pública nacional e internacional.
Acontece que nem o CDS subscreveu o projeto, nem a oposição embarcou numa “música celestial para incautos”. O intempestivo PSD não teve outro remédio se não subtrair-se à votação. Caricato foi o facto de se ter refugiado num “porto de abrigo” chamado “diálogo”, mas não questionou a intervenção de Vitalino Canas e no encerramento do debate não resistiu à tentação e desferiu um ataque ao PS. Deve ser bom dialogar assim!
Vive-se, pois, um ambiente de crispação “sabiamente” construído pelo principal partido do governo. Não é coisa que demonstre grande inteligência. A crispação é inimiga da consolidação das contas públicas, faz mau ambiente! Talvez por isso o CDS se mantenha mais contido e prudente.
E os resultados da governação aconselham prudência, muita prudência! A receita faliu. As pessoas não aguentam e o país também não. O primeiro-ministro foi derrotado pela sua própria agenda neoliberal. O seu ministro das Finanças, como alguém ironizava com graça, “fala português, mas tem passaporte alemão”, só que até a Alemanha adiou a aprovação do tratado. O que lhe aconteceu esta semana, depois de apresentar o tal DEO (documento de estratégia orçamental – nome com que rebatizou o PEC), foi reprovável. Demos conta que, afinal, apenas entregara uma parte à AR. A outra, a completa, foi para Bruxelas.
Diz que lha pediram, que se trata apenas de um anexo. Pois, pode chamar-lhe os nomes que quiser, mas nesse “anexo” tem lá a previsão de uma subida exponencial do desemprego, por exemplo. Ou seja, está lá a confissão certificada do desastre governativo!
Como diz Pacheco Pereira sobre o governo: “não acerta uma estatística nem uma previsão”. Está sempre a retificar. E a verdade é que Vítor Gaspar deixou de ser ministro das Finanças para assumir a pasta de ministro das “retificações”.
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