Filipe Santos Costa
Como Cavaco Silva reabilitou as bandeiras do Governo PS, um ano depois de Sócrates se ter despedido!Por várias vezes a bancada parlamentar do PS se agitou, com murmúrios em crescendo, durante o discurso de Cavaco Silva na sessão solene do 25 de abril. Não porque discordasse do que dizia o Presidente da República. Pelo contrário: porque o discurso do PR - ainda que inadvertidamente - acabou por ser um extraordinário elogio aos governos de Sócrates. Aliás, boa parte das 8 páginas da intervenção do PR poderiam ter sido lidas pelo antigo primeiro-ministro - o mesmo que acabou por se demitir, há um ano, depois de lhe ter aberto a porta de saída com o hoje célebre discurso sobre os "limites para os sacrifícios".
Passado mais de um ano sobre esses acontecimentos, Cavaco Silva não repetiu que "há limites para os sacrifícios", como lembrou, oportuno, o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã.
O que Cavaco repetiu foi boa parte dos argumentos que, ao longo de várias sessões legislativas, José Sócrates elencou em inúmeras intervenções, dentro e fora da Assembleia da República. Porque as razões do orgulho português, tal como o PR as apresentou hoje, 25 de abril de 2012, são em grande medida as bandeiras do Governo anterior: o salto que o país deu na ciência, na investigação e desenvolvimento, na cultura, nas artes plásticas, nas indústrias criativas, na inovação em setores tradicionais, no investimento em infraestruturas e em energias alternativas. Até no plano político-diplomático Cavaco se recorreu da herança dos governos socialistas, ao louvar o Tratado de Lisboa e a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU.
Soa familiar?
Foram inúmeras as vezes que Sócrates, nos debates quinzenais (para nos ficarmos apenas pelo palco parlamentar) invocou estas bandeiras e citou dados como aqueles que Cavaco diz serem hoje razões de sobra para a melhoria da imagem de Portugal no estrangeiro: quadriplicou o número de diplomados, tivemos "um dos maiores crescimentos da Europa" em novos doutorados e a "segunda maior taxa de crescimento da produção científica de todos os países da UE", temos "centros científicos e tecnológicos de nível internacional", duplicámos o investimento em investigação e desenvolvimento, somamos triunfos na cultura - artes plásticas, moda, cinema, arquitetura...
Tudo referindo-se ao horizonte temporal da última década - a mesma a que se convencionou chamar a "década perdida". Tudo setores de que Sócrates fez bandeira. Tudo áreas que os Governos de Cavaco são acusados de terem desprezado.
Com o seu discurso, Cavaco reabilitou uma parte da herança de José Sócrates. Nem de propósito, enquanto o PR falava, um deputado socialista comentava para o colega do lado: "No fim disto, ele dá uma medalha ao Sócrates".
A verdade é que ele está certo, foi na última década que o país se desenvolveu de uma forma exponencial nas áreas da tecnologia e do conhecimento.
ResponderEliminaro Governo Socialista, não tivesse sido atropelado por um cilindro gigante chamado `Crise económica` proveniente dos erros crassos dos governantes do mundo,corria um sério risco de se tornar num governo, que de tão permanente, se tornaria uma ameaça à democracia.A direita nunca serviu para coisa nenhuma, apenas para que de tempos a tempos a governação mude, pena que durante esse período consegue destruir tudo o que foi feito anteriormente.