domingo, 8 de abril de 2012

ÁGUAS DE PORTUGAL - Perdoar dívidas das autarquias seria trair os cumpridores, diz ex-ministro

SINTESEO ex-ministro do Ambiente Francisco Nunes Correia  defende que perdoar as dívidas das autarquias à Águas de Portugal (AdP)  seria considerado "uma traição" por parte dos municípios cumpridores, apelando  ao Governo que mantenha uma atitude firme nesta matéria ... sobre Manuel Frexes, para administrador do grupo,  disse que a escolha "causou grande perplexidade junto dos municípios  cumpridores" e que "foi um sinal muito bizarro convidar o maior devedor  para gerir a entidade a quem deve". 

"A dívida dos municípios ao grupo Águas de Portugal (AdP) totalizava  no final do ano passado cerca de 450 milhões de euros, sem que a ministra  da tutela, Assunção Cristas, tenha ainda apontado soluções para o problema  depois de ter exigido às câmaras devedoras a apresentação de um plano de pagamentos.  O antigo governante e atual presidente da Parceria Portuguesa da Água  (PPA) salientou que deve haver "firmeza" do Governo relativamente às dívidas  dos municípios, pois o contrário seria "a pior coisa que podia acontecer".

"É de uma gravidade enorme o Estado não ter uma postura de autoridade  quanto a essa matéria. O Estado pode encontrar soluções para ajudar os municípios  a pagar, agora perdoar a dívida é uma traição aos muitos municípios que  assumiram as suas obrigações, seria uma situação absolutamente inaceitável",  reforçou. 
Questionado sobre a nomeação do presidente da câmara do Fundão (uma  das maiores devedoras da AdP), Manuel Frexes, para administrador do grupo,  respondeu que a escolha "causou grande perplexidade junto dos municípios  cumpridores" e que "foi um sinal muito bizarro convidar o maior devedor  para gerir a entidade a quem deve". 

Nunes Correia admitiu, no entanto, que "as tarifas têm de aumentar,  porque nalguns casos estão abaixo do que os municípios pagam à AdP" e adiantou  que é preciso rever cuidadosamente o custo da água. 
"É evidente que faz sentido passar esses custos para o utilizador final,  mas é evidente também que tem de haver um sentido de viabilidade social  e é preciso encontrar mecanismos para ajudar a comparticipar esses custos",  acrescentou, sugerindo escalões de acordo com os consumos, discriminação  de utilizadores (domésticos, turísticos e comerciais, por exemplo) e subsidiar  a água a famílias carenciadas.  
"O que acontece neste momento é que as contas são varridas para baixo  do tapete e os municípios não fazem ideia de quanto é que lhes custa pôr  água em casa das pessoas e acabam por suportar esse custo com os seus orçamentos.  Um dia deixam de pagar porque acham que alguém vai amnistiar e resolver  o problema", observou. 
O antigo governante considerou que o Governo tem adotado, nos últimos  tempos, uma postura "prudente" face ao setor, encarando a AdP "como parte  da solução e não como parte do problema" e apontando para as concessões,  em detrimento da privatização do grupo, opção que também defende. 
Assinalou ainda que os operadores privados entraram no setor em 1993  e que, neste momento, 20 por cento dos portugueses são abastecidos por empresas  privadas, mostrando-se "surpreendido" quando "alguém diz que é preciso abrir  o setor aos privados". 
O também professor do Instituto Superior Técnico (IST) aponta como prioridades  na reestruturação do setor, a verticalização, envolvendo as entidades gestoras  no sistemas "em alta" (captação e transporte de água até aos reservatórios),  "em baixa" (distribuição de água ao utilizador final) e a fusão de empresas  para "criar escala", um processo que, admite, "tem uma dimensão política  muito importante". 
Nunes Correia lembrou que o Estado tem as câmaras como acionistas nos  sistemas multimunicipais, frisando que "as câmaras encaram estes processos  com apreensão, por temerem ficar mais afastadas dos centros de decisão"  e é preciso mostrar-lhes que "é vantajoso para todos". 
Também a questão da verticalização "é muito complexa", mas o responsável  da PPA considera que as câmaras estão hoje mais preparadas para dar estes  passos do que "quando tudo começou, em 1993", altura em que estas competências  eram estritamente autárquicas. 
"Há um modelo de verticalização que começou a ser aplicado em Aveiro,  resultante de uma parceria entre o Estado e as câmaras para explorar os  sistemas em baixa. Parece-me que este é o modelo com mais viabilidade técnica,  política e económica a curto prazo", sugere o docente do IST, acrescentando  que a fase seguinte seria a concessão da exploração destes sistemas. 
Seriam concessões de duração mais curta, da ordem dos 10 a 15 anos,  o que levaria à existência de um verdadeiro mercado, porque haveria sempre  concursos a decorrer. Isso contribuiria para criar um tecido empresarial  predominantemente português e, a pouco e pouco, ir aumentando a presença  dos privados neste setor, mantendo o Estado a posse das infraestruturas",  esclareceu. "
Lusa

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