domingo, 29 de janeiro de 2012

NÃO É SÓ O PRESIDENTE QUE FICA EM CAUSA (in Diário de Viseu)

O Económico, via Sapo, quarta-feira, dizia que “Quase 30 mil pessoas já assinaram a petição 'online' que pede a demissão do Presidente da República. No texto da petição, são recordadas as declarações do chefe de Estado na sexta-feira, quando Cavaco Silva afirmou que aquilo que vai receber como reforma "quase de certeza que não vai chegar para pagar" as suas despesas. "Estas declarações estão a inundar de estupefação e incredulidade uma população que viu o mesmo Presidente promulgar um Orçamento de Estado que elimina o 13.º e 14.º mês para os reformados com rendimento mensal de 600 euros".
É certo que discordo do político Cavaco Silva, quer como primeiro-ministro que foi, quer como Presidente da República que é e que estas petição deve ser entendida apenas como sinal de protesto.
Terminou o seu último mandato no governo de maioria absoluta com o país numa crise e recessão profundas, de origem exclusivamente portuguesa, que “rebentou” quando na televisão afirmou que na bolsa se “vendia gato por lebre”.
Começou este seu último mandato dando o tiro de partida para a demissão do governo socialista, tomou partido pelas agências de rating e lançou Portugal numa crise política que somou à crise económica. Até ali, os sacrifícios dos portugueses tinham atingido o seu limite, mas a partir do “seu” governo tudo foi permitido e assinalado como natural, com o seu silêncio.
Cavaco Silva é um homem mal preparado, parado no tempo, vivendo num quadro de fingimentos que já não colam na sociedade atual. Exibe a sua família, como um “sinal de bom comportamento”, expõe a “pobre” reforma de 800 euros da sua mulher, espalha uma imagem de pessoa austera e simples, ainda que com alguma sorte na bolsa e, quando poderia ter parado, queixa-se do “pouco e incerto” que recebe e diz não ganhar o suficiente para as suas despesas … que tem de recorrer às suas poupanças.
O Presidente trocou o ordenado da sua função pelo somatório das suas reformas, uns confortáveis 10 000 euros, mas queixa-se, finge, escondendo-se atrás de um ar esquálido, de sofrimento, que até poderia exprimir provação.
A hipocrisia e o descuido, a representação, são um atestado de menoridade a todos nós e um desrespeito para consigo próprio. A inteligência quando foi distribuída – como diz o povo – estávamos cá todos e o direito à indignação não é propriedade apenas de alguns.
Não voltarei a este assunto. A presidência da república é um último patamar na representação do Estado, deveria ser também o referente de equilíbrio desse mesmo Estado. Por isso, esqueçamos este episódio, é tempo de parar, não é só o presidente que fica em causa!
DV 2012-01-25

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