quarta-feira, 20 de julho de 2011

RATING DOS ESTADOS UNIDOS CORTADO para AA+

Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
Agência de notação Egan-Jones Ratings retirou o Governo dos EUA do triplo A. As razões são um nível de dívida superior a 100% do PIB, um rácio "ao nível de Portugal". Mas acha pouco provável um default da dívida soberana.
Esta notação equivale a que a dívida americana continua "quase sem risco", mas é uma machadada na imagem de dívida acima de qualquer suspeita.
Nem mesmo quando os Estados Unidos entraram em default restrito por três semanas em 1979 (entre 26 de abril e 10 de maio), as agências haviam tocado no triplo A. O tabu foi vencido.
A principal razão deste corte na notação prende-se com o nível de dívida pública federal em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) com uma trajetória de subida de 86,2% em junho de 2009 para 99,9% em junho de 2010 e 101,3% em junho de 2011, avaliado em termos ajustados. No canal CNBC, o co-fundador da Egan-Jones Ratings, Sean Egan, ironizou que era um rácio "ao nível do de Portugal".
Os pagamentos em juros em relação à arrecadação de impostos subiram de 19,7% em junho de 2009 para 23,6% em junho de 2011.
A trajetória do défice federal em relação ao PIB apontada pela Egan-Jones é a seguinte: 10% do PIB em 2009 (no ano da contração da economia americana); 8,9% do PIB em 2010; e 9,8% em 2011.
Mau comportamento da balança comercial
A agência de notação de risco alega, ainda, que o corte nas despesas federais é "difícil" em termos "significativos".
Sublinha que não tomaram esta decisão, no fim de semana, em virtude do stresse político em torno da subida ou não do teto de endividamento federal, mas sim olhando para questões estruturais.
Uma delas, que o comunicado refere, é o mau comportamento continuado da balança comercial de bens e serviços dos Estados Unidos, apesar da desvalorização do dólar.
A agência considera que um hard default (um incumprimento severo) - em contraponto a um soft default (um incumprimento "suave"), como o presidente do Eurogrupo Jean-Claude Juncker tem referido que seria o ideal para o caso grego - é pouco provável no caso da dívida soberana dos Estados Unidos.
Uma nota final que dá que pensar
Mas, curiosamente, o comunicado da Egan-Jones coloca em nota final, que "a história provou que incumprimentos na dívida doméstica podem ocorrer". "De facto, 70 em 300 eventos de bancarrota desde 1800 ocorreram na dívida doméstica [segundo a obra "This Time is Different", de Reinhart e Rogoff]. Egan-Jones não considera que a capacidade de um país imprimir a sua própria moeda é uma garantia contra um default. Adicionalmente, a Egan-Jones considera casos de desvalorização excessiva de uma divisa como um default de facto" (sublinhado nosso).
Um dos impactos dos cortes de notação poderá ser o aumento das yields (juros implícitos) nos títulos do Tesouro americano. Nos títulos a 10 anos, os juros estão hoje em 2,95%, mas a previsão da Egan-Jones aponta para 3,4% no final de 2011, seguido de uma tendência de subida: 3,8% em 2012; 4,7% em média anual no período 2013-2016 e 5,4% em média anual no período 2017-2021.
Perfil de declínio de crescimento
O cenário macroeconómico para os Estados Unidos apontado pela Egan-Jones baseia-se numa trajetória de crescimento do PIB (em termos reais) de 3,1% em 2011, uma desaceleração em 2012 para um crescimento de 2,8%, a que se seguirá uma média anual de 3,4% entre 2013 e 2016 e de 2,4% entre 2017-2021.
O perfil de declínio da taxa de crescimento dos EUA continuará a ser uma das marcas da economia norte-americana: 5,9% na década de 1940; 4,1% na década de 1950; 4,4% na década de 1960; 3,3% na década de 1970; 3,1% na década de 1980; 3,1% na década de 1990; 2,6% entre 2000 e 2007 (antes do eclodir da Grande Recessão); 0,23% entre 2008 e 2010.
A Egan-Jones tem um palmarés de avisar atempadamente para "acidentes financeiros" desde o princípio dos anos 2000. Esta pequena agência, de 15 analistas, não vende os serviços aos avaliados, mas a sim a gestores de fundos e grandes investidores, para evitar conflitos de interesse.
A Egan-Jones ficou famosa por ter avisado sobre os problemas de crédito da WorldCom nos anos 2000, por ter baixado o rating da Enron muito antes de esta entrar em colapso, e em maio de 2008 desceu a notação do Lehman Brothers para BBB.
Recorde-se que duas das agências mundiais de maior peso - a Moody's e a Standard & Poor's (S&P, que falou de uma probabilidade de 50% da notação dos EUA descer nos próximos 90 dias) - já colocaram a notação dos Estados Unidos em revisão para baixa.
Os 18 "premiados" com triplo A pela S&P

A agência de notação S&P tem 18 países classificados com notação AAA. A lista, por ordem alfabética, é a seguinte: Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França, Guernesy, Holanda, Hong Kong, Liechtenstein, Luxemburgo, Noruega, Singapura, Suécia, Suíça e Reino Unido.
Martin Hutchinson, no Money Morning de hoje, comentava que dos 18 escolheria como "sólidos" apenas 4: Canadá, Noruega, Suíça e Singapura.
Dos outros, recomendaria que, mesmo antes do corte na notação dos Estados Unidos e do Reino Unido, se corrigisse o rating de França.

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