domingo, 1 de maio de 2011

CATROGA E A “GOLDEN SHARE” COR-DE-LARANJA

Eduardo Catroga falou às televisões contra os governos do PS e, de modo particular, contra José Sócrates, sem esquecer António Guterres. Transpirava uma raiva e um acinte incontidos. Transportava no olhar um brilho despeitado como há muito não via. Fez mal. As atitudes e as falhas de memória não perdoam.

Lembrou-se de António Guterres, mas esqueceu-se do “pai do monstro”, nome de baptismo com que Miguel Cadilhe imortalizou o telúrico aumento salarial de toda a administração pública, exactamente num governo do PSD. Foi o maior aumento da despesa pública que alguma vez aconteceu e que ficou “fixa” para todo o sempre. Mas valeu uma maioria absoluta!

Ele que foi ministro de um governo PSD esqueceu-se de quem inventou um subsídio de férias para os reformados. Toda a gente compreende que quem se reforma precisa de passar férias. E Catroga também compreendeu. E assim se entende que só Portugal e o Luxemburgo, no mundo, sejam os dois únicos países a pagá-lo. Não há dúvida que os alemães, os finlandeses, os americanos e quejandos sejam uns desalmados.

Esqueceu-se do seu companheiro de partido e de governo Oliveira e Costa ou do Conselheiro de Estado Dias Loureiro ou de toda a equipa que, desde tempos imemoriais, conduziu todos os negócios do Estado que incluíram a criação de uma SLN e de um BPN. Estas duas agências de negócio produziram multimilionários, sucessos estonteantes na bolsa, para alguns, e um desastre financeiro para Portugal de dimensões excêntricas.

Esqueceu-se de que a “juventude rasca” foi uma expressão adjectiva de um governo PSD e que ontem, na televisão, não deveria ter confundido com o que os “media” designaram por “juventude à rasca”, coisa bem diferente.

Incentivou mesmo, sempre esgrimindo as ofensas políticas e pessoais, que os jovens portugueses enviassem José Sócrates a tribunal, esquecendo-se de todos os seus companheiros das empresas e dos que lideraram as transformações na Banca e nos sucedâneos da CUF, desde os governos constitucionais.

Eduardo Catroga estava outro. Foi o que me pareceu na televisão. A fúria perturba as ideias e dificulta o fluir das palavras. Ficam sem se perceber. Não têm sentido. Perpassa por esta imagem uma impotência intelectual e ausência de pleno discernimento. Uma tragédia para um jovem líder que o apresenta como a “mãe de todas as soluções” e que se entregou nos seus braços orçamentais.

Tudo faz sentido, não há dúvida! Votaram contra um PEC IV, porque era “fraco” e queriam um PEC “forte”, com mais sacrifícios – e vamos tê-lo, com razões cor-de-laranja – e agora começam as promessas melífluas.

E Passos Coelho já começou a prometer: não haverá reduções salariais, nem despedimentos na administração pública, dizendo que, afinal, Marques Mendes, que preconizara a saída de duzentos mil funcionários com a ajuda dos dinheiros comunitários, é coisa do passado, tal como o IVA a 25%, a privatização da CGD, os contratos verbais ou os despedimentos sem justa causa, a somar à privatização da saúde e da segurança social.

Eduardo Catroga, no governo, continuou a engordar a máquina do Estado, como se sabe, e mais algumas personalidades foram tocadas por esta “dieta” de sinal contrário.

O que lhe queria dizer é que nas democracias, ao contrário das ditaduras, as eleições existem para avaliar a “acção dos escolhidos” e a justiça, ainda que lenta, é feita pelos tribunais, e está a acontecer.

Finalmente, deixo claro a Eduardo Catroga que todos sabemos quem na comunicação social, na administração, nas empresas e na banca detém a “golden share” cor-de-laranja.

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