sábado, 22 de janeiro de 2011

EM VEZ DA FORÇA DOS VOTOS, A FORÇA DA VERDADE

Hoje termina a campanha. Na segunda-feira continuará o debate e começará um outro, com segunda volta ou sem ela. Nada será igual aos dias de hoje. A campanha foi tensa, trouxe azedume, desconfiança e desejo de “desforra”.
Durante a crise genuinamente portuguesa, do último Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, não tenho memória de que o Presidente da República de então, Mário Soares, tivesse incitado os descontentes a um ainda maior descontentamento, quer apelando a manifestações, quer substituindo-se ao Governo com anúncio de medidas políticas, criação ou extinção de ministérios.
E bem o poderia ter feito se não soubesse preservar sempre o interesse nacional, bem como o carácter imaculado da figura e funções do Presidente da República. Este órgão de soberania, constitucionalmente, não é propriedade de ninguém, mas é desempenhado por aqueles a quem o Povo entendeu atribuir essa responsabilidade.
Portanto, o mandato que aí vem será sempre diferente, seja qual for o vencedor. Bem sei o que indicam as sondagens e, por isso, a probabilidade na eleição tende para a renovação do actual mandato, embora não hajam coroações antecipadas.
Se assim for, a questão estará em saber se a cooperação institucional, Governo-Presidência, será ainda possível ou se, rapidamente, atingirá o grau de deterioração plena.
Nesta hipótese o país terá tudo a perder e nada, mesmo nada a ganhar. Se assim for, o azedume pessoal e os interesses apadrinhados do PSD/CDS, irão prevalecer sobre a estabilidade e o bem geral dos portugueses.
Se à esquerda do PS o quanto “pior-melhor” foi sempre uma inevitabilidade, à direita do PS a inevitabilidade é a mesma: quanto “pior-melhor”.
Penso que, realmente, será sempre pior e nunca melhor, nem para o país, nem para os desempregados, nem para as famílias, nem para as empresas. Neste possível contexto, o que por aí vier terá a assinatura inconfundível de Cavaco Silva.
A tudo isto somam-se os “casos” Cavaco Silva-SLN-BPN com toda a “Fantasia” que possa ou não existir sobre eles ou as faltas de memória, não excluindo a constituição de uma Comissão de Inquérito na Assembleia da República. Já o fizeram por bem menos.
Se o caminho vier a ser esse continuar-se-á, tal como na campanha, o mesmo debate que debilitará, em primeiro lugar, as instituições e o prestígio da democracia.
Tudo isto, no entanto, uma vez levantado e alimentado pelas partes, já poderia estar resolvido se o candidato da direita em vez de silêncio fizesse esclarecimento, se preferisse, em vez da força dos votos, a força da verdade.

DB 2011-01-21

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