No final de 2015, há 6 meses, escrevei este texto. Volto a publicá-lo para análise da diferença entre aquele tempo e o dia de hoje.
"O Governo está finalmente em funções. O programa foi
discutido esta semana. Já não existia expetativa quanto às propostas
estruturantes e a novidade foi o “brinde natalício” oferecido pela direita sob
forma de moção de censura. Estava antecipadamente condenada ao insucesso.
E assim foi. Ao ser derrotada, António Costa obteve a confiança do parlamento
para o seu programa que, como se sabe, não necessitaria de ir a votos. Ouro
sobre azul.
O debate centrou-se na legitimidade ou não da coligação da
esquerda, com maior ou menor ressabiamento. Afinal, a força vencedora vai para
a oposição e a perdedora para o Governo. A solução é constitucionalmente
legítima, facto que a própria Manuela Ferreira Leite já sublinhou, pese embora
a sua discordância, e não é nenhuma novidade nas democracias europeias.
Começa agora o grande desafio para o PS, o de corresponder às
expetativas criadas junto do eleitorado, de manter o apoio parlamentar de uma
esquerda mais radical e de governar no respeito pela boa saúde das contas
públicas e da estabilidade financeira e política do país.
Analisar se as promessas do PS são ou não
acomodáveis no orçamento, sempre nos limites do Tratado Orçamental, é uma perda
de tempo. Em junho, que não ainda em março, a execução orçamental dirá tudo o
que haverá a dizer sobre a matéria. A UTAO, o Conselho Superior de Finanças
Públicas, o INE ou as demais instituições europeias irão divulgar os seus números.
Em março, se for esse o momento já estabilizado, a
discussão das linhas de orientação para o Pacto de Estabilidade será o primeiro
grande momento com interesse político, não tanto pelo discurso da direita, mas
pela qualidade do cimento que une as esquerdas. Por essa altura, PSD e CDS estarão
a experimentar um processo de afastamento – funcional, pelo menos - as suas
vidas internas também deverão conhecer alterações e no verão já tudo estará em
transformação política.
Nessa altura, as sondagens hão-de falar
mais alto do que se espera, porque da opinião que traduzirem vai depender o
comportamento dos partidos, das coligações e a perseverança na aplicação das
políticas. Se o PS, como espero, conhecer sucesso na sua governação as atenções
do eleitorado hão-de concentrar-se nele como alternativa.
Independentemente do que acontecer à
direita, PCP e BE vão começar a fazer as suas primeiras contas políticas, porque a
afirmação do PS será diretamente proporcional à regressão eleitoral daqueles
partidos. E nessa altura saberemos se Jerónimo e Catarina se mantêm em linha
com o reforço do PS ou procurarão minimizar “estragos” como tenho vindo a
prever desde outubro deste ano.
Jerónimo voltou a insistir esta semana, com mais ênfase,
que há um Governo minoritário do PS e não uma coligação de esquerda, porque
esta apenas se encontrou em “posições comuns” para o derrube da direita e que
isso não é o mesmo que um programa comum à esquerda. É um sinal de fraqueza do
PCP!
Seja como for, se as expetativas criadas
pelo PS junto do eleitorado não desmerecerem, no verão as sondagens poderão
colocar o PS a caminho da maioria absoluta."
Gota de Água, 2015.12.04
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