A decadência europeia vai muito para além da economia. está ferida nos seus princípios, nomeadamente os do emprego, da solidariedade e da paz.
O preço a pagar será elevadíssimo. Mas até parece que ninguém liga e que nada temos a ver com isso, uma espécie de "nem somos de cá".
(Lusa) O candidato a secretário-geral
da ONU adverte para as “consequências imprevisíveis” de um
colapso do sistema de proteção dos refugiados e apela a uma maior intervenção
da comunidade internacional. “É o momento de agitar as águas”, diz António
Guterres
O ex-Alto Comissário das
Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, alertou
este sábado em Coimbra para o risco do colapso do sistema de proteção de
refugiados, defendendo que é tempo de se pensar em soluções mais radicais.
"Nunca, nos tempos
recentes, estivemos tão próximos desse colapso como estamos
neste momento", afirmou António Guterres, considerando que é necessária
uma maior intervenção da comunidade internacional para que tal não aconteça.
Para o ex-Alto Comissário das
Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um colapso do
sistema teria "consequências imprevisíveis" no plano humanitário e
dos direitos humanos, mas também a outras "escalas", podendo
contribuir para a desestabilização de países em zonas de conflito.
Esse colapso seria "um
belíssimo instrumento ao serviço daquelas organizações terroristas
internacionais que procuram aproveitar todos os pretextos para recrutar todos
aqueles que se sintam discriminados e abandonados", sublinhou o também
candidato a secretário-geral das Nações Unidas (ONU), que falava enquanto
orador convidado na conferência "A Situação Internacional e os Movimentos
Forçados de População", no auditório da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra (FEUC).
Nos dez anos à frente do
ACNUR, Guterres encontrou, com raras exceções, as fronteiras
"abertas para refugiados". No entanto, hoje assiste-se a "um
fechar progressivo das fronteiras, sobretudo na Europa", que tem um efeito
de arrastamento e "mimetismo" por parte dos países de primeiro
acolhimento.
O ex-Alto Comissário apontou
para o caso do Líbano, em que há um refugiado para cada três
libaneses, e que se pode questionar o porquê de dever manter a fronteira aberta
quando a União Europeia, em que entram dois refugiados por cada mil cidadãos
europeus, barra a entrada a pessoas que tiveram de abandonar o seu país de
origem.
Esta é "uma epidemia que
se alastra", alertou, recordando que é no mundo em
desenvolvimento que a maioria dos refugiados (86%) está.
Num momento em que o número de
refugiados no mundo é o mais alto desde a 2.ª Grande Guerra Mundial
(cerca de 60 milhões), "é preciso ter a capacidade de pôr em cima da mesa
soluções que antes seriam impossíveis", defendeu.
E, de acordo com Guterres,
"há um clima para se pensar em algumas soluções mais
radicais", visto que se está "a chegar a um beco sem saída".
"É o momento de agitar as águas", afirmou.
O candidato a secretário-geral
da ONU realçou a importância de se criarem "mecanismos para
garantir o financiamento" para a proteção de refugiados à escala global,
para que o apoio não exista apenas a partir "da boa vontade de certos
Estados".
Durante o discurso, António
Guterres frisou que é necessária "uma mega operação de
reinstalação à escala global", de forma a que os movimentos de refugiados
não sejam controlados "por traficantes e contrabandistas".
Instrumentos que assegurassem
o movimento legal de refugiados "para o mundo
desenvolvido", juntamente com o aumento "significativo" da ajuda
humanitária e de mecanismos de cooperação económica nos países de primeiro
acolhimento, são as únicas soluções possíveis para se responder "às
necessidades dos refugiados" e aos países que estão na primeira linha,
disse o ex-alto comissário.
O ex-primeiro-ministro é
homenageado no domingo pela Universidade de Coimbra (UC) com o
título de doutor 'honoris causa', contando com as presenças do atual
primeiro-ministro, António Costa, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo
de Sousa.
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