Vamos
deixar 2015 num ambiente de grande controvérsia política. Não vejo que o
próximo ano possa começar de modo diferente. Tudo foi atípico. Tudo é atípico.
Desde logo a vitória eleitoral da direita, depois de quatro anos de governo de
grande dureza e desigualdade. Não era expectável, sobretudo porque o caminho
escolhido foi bem mais além daquele que nos fora imposto em 2011.
No
entanto, por vezes, diz o povo que “Deus escreve direito por linhas tortas”.
Crentes ou não, a verdade é que a solução governativa é o resultado disso
mesmo. Talvez tenha a bênção divina, quem sabe? Os que perderam governam e os
que ganharam são oposição. E aqui a Bíblia é a Constituição da República que também
nos assegura de que na vida há sempre outro caminho, igualmente possível e
legítimo.
E terá sucesso, perguntam muitos? Sim, pode ter
sucesso, apesar eu ter sentido muitas dúvidas na solução por causa da
fiabilidade política dos parceiros. O motivo é simples. Se isso acontecer - o
sucesso – o governo minoritário do PS será devidamente reconhecido num próximo
ato eleitoral. O PCP e o BE serão os primeiros a sentir esse efeito.
E será que vão consentir? Podem não ter outra
solução. António Costa causou uma primeira boa impressão. Demonstrou que a
esquerda se pode unir no apoio a uma solução alternativa de governo e escolheu
um Executivo que espelha a diversidade da sociedade portuguesa. Tudo foi
novidade e tudo foi bem aceite.
“Virar a página da austeridade” foi um tema
forte do PS e as medidas que conhecemos dão-nos a perceção clara de que a
promessa está a ser cumprida.
Por outro lado, a direita
esqueceu-se de que escondera o problema “Banif" e a esquerda mais radical também
se esqueceu das "posições conjuntas” que definiram um apoio inequívoco à
estabilidade de um governo PS.
O resultado foi simples: o “irrevogável” CDS juntou-se ao PCP,
BE e PEV nos votos contra o orçamento retificativo do PS e Passos Coelho tomou “Mebocaína”
para a garganta, a tal que “fazia e acontecia” se algum dia António Costa
precisasse do PSD.
Pois foram Passos Coelho e o PSD que viabilizaram a proposta do PS evitando a
queda do governo.
A desagregação da direita, dois meses depois
das eleições, é uma evidência e as mudanças internas no PSD e CDS serão uma
inevitabilidade. Nos partidos à esquerda do PS a “vida” está mais difícil,
porque ninguém compreenderia bem que os ditos pudessem levar à queda de um
governo que apoiaram, sobretudo quando este travou a direita, a austeridade cega,
as privatizações e tudo está a fazer para a reversão daquelas que defraudam os
ativos do Estado ou os serviços públicos que lhe são devidos.
Ao mesmo tempo, o governo está a restabelecer
equidade nas políticas sociais, garante um salário mínimo mais elevado, vai
devolver aos trabalhadores cortes nos seus rendimentos, construindo uma
oportunidade para a economia e o emprego.
Ora, serão este os indicadores, a par do
crescimento, que no final do segundo semestre darão os primeiros sinais sobre
as opções assumidas. A UTAO, o INE, o Conselho Superior de Finanças Públicas ou
Bruxelas não deixarão de divulgar, como até aqui, as suas conclusões em
matemática pura. Confio e direi, pois, que o governo está para durar, mas um
ano de cada vez.
JJunqueiro, 2015.12, 23
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