sábado, 3 de março de 2012

POR QUE MOTIVO FOI ELEITO PELOS PORTUGUESES? (hoje, in Diário as Beiras)

Há uma linha de divisão entre o Presidente da República e o governo. Penso que há também uma linha de divisão com Portugal. A entrevista que deu à TSF foi bem clara. Distancia-se de Passos Coelho, dos acontecimentos e, agora, dos 27 chefes de estado e de governo europeus, acusando-os de "cobardia política" perante as agências de “rating”. Um espanto!

Bem sei que são muitos os que lembram que o adversário político do PS é o governo e não o Presidente. Acontece, no entanto, que vejo o Presidente como adversário do país, de todos os governos, de todos nós, e não apenas do PS. E a coisa não é para menos!

Há um ano, por esta ocasião, Cavaco Silva fustigava fortemente a governação socialista. Era o tenor de um coro de protestos que via no PS a culpa da crise que se abateu sobre os portugueses. Lembrou mesmo que havia "limites para os sacrifícios" e, agora, lembra também, ao atual governo, que há limites para a austeridade exigida aos "novos pobres". Na minha humilde opinião, o mínimo que se impunha ao Presidente, em ambos os casos, era mais solidariedade e mais verdade.

Em primeiro lugar, porque a crise foi sempre internacional e não genuína e exclusiva mente portuguesa como aquela em que o próprio nos lançou durante a sua segunda maioria absoluta. Bandeiras negras nas ruas, salários em atraso, milhares de empresas na falência, despedimentos, fome e um défice por volta dos 7%, foi o cenário em que Cavaco Silva nos deixou.

Em segundo lugar, porque há um ano as agências de "rating" já eram um mal e não um bem, facto que lhe impunha ter tomado o partido de Portugal e não o daquelas "notadoras" que, aliás, elogiou não se dando conta que essa sua atitude era um ataque ao país que lhe confiara o voto e exigia lealdade!

Em terceiro lugar, porque o atual governo resulta de uma "iniciativa presidencial" que derrubou o anterior e, portanto, para o bem e para o mal, o Presidente da República deveria ser mais solidário para com a sua própria "obra". Mas não! Procura a qualquer preço, "custe o que custar", sacudir as suas responsabilidades atirando-as para cima da atual maioria, a sua maioria!

Há um ano incitava os jovens à indignação e hoje foge deles, de miúdos de uma pequena escola, só porque estavam a fazer o que o Presidente lhes pedira, a manifestarem essa mesma indignação!

Queixa-se da sua pensão de 10 000€ por não lhe dar para "pagar as despesas", esquecendo-se que todos aqueles que recebem o ordenado mínimo, pensões mínimas ou estão desempregados não andam distraídos, nem se deixam tomar por tolos.

Finalmente, um Presidente que diz andar sempre "bem informado" finge-se surpreendido com os números do desemprego, nomeadamente entre os jovens, como se fosse alguém que acabasse de aterrar, vindo sabe-se lá donde! Por que motivo foi eleito pelos portugueses?
DB 2012.03.01

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