sábado, 17 de dezembro de 2011

O “ENCARCERAMENTO” DA ECONOMIA (in Diário de Viseu) - HOJE

A semana anterior acabou mal, com um Conselho Europeu a “fazer de conta”, e esta começou pior, com a notícia do “desaparecimento” da nova fábrica de baterias em Cacia. O governo vai de mal a pior. Passo a explicar.

No Conselho Europeu o 1º Ministro de Portugal disse que “sim senhora”, mais uma vez, à chanceler alemã, sem perceber que no eixo franco-alemão, neste momento, só se fala para o interior dos respectivos países, para os seus eleitorados. Há eleições, a popularidade está em baixo e, portanto, há que recuperar, à custa de “quase” todos, particularmente à nossa custa!

Em Cacia afundou-se a fábrica da Nissan. Os estímulos fiscais comprometidos não foram respeitados. E o “memorando” aconselhava a ponderação geral de incentivos, mas não o corte particular a este ou aquele empreendimento. Lamentável. A grande multinacional, que queria fazer de Portugal uma “montra tecnológica”, por ser o país na linha da frente dos carros movidos a electricidade, não pactuou com a inércia do governo. Foi-se embora.

O 1º Ministro, piedosamente, diz que o projecto foi apenas adiado, como adiado anda o ministério da economia. Acontece que o investimento e o emprego são demasiado importantes para serem “adiados” e o prestígio internacional que Portugal tinha ganho - e que se intensificaria – perdeu-se.

Para o país é mau e para a região centro péssimo. Na altura tudo se fez para que a localização ficasse entre nós, na nossa região. Não foi em Viseu, mas foi em Aveiro. O nosso desenvolvimento faz-se da soma das partes. Já hoje é assim no nosso concelho. Vivemos dos efeitos directos ou colaterais das empresas que estão nas autarquias vizinhas. Mangualde, Nelas, Sta Comba Dão, Mortágua ou Oliveira de Frades são bons exemplos de estratégia autárquica empresarial.

Hoje, perante o excedente financeiro colossal com que vamos acabar o ano, compreende-se melhor o nosso desapontamento com o “encarceramento” da economia. Vimos, com preocupação, o fim do programa de reabilitação das escolas secundárias, da construção de centros escolares, o fim do plano de barragens, a suspensão da construção e contratualização de equipamentos sociais, de centros de saúde ou de unidades de cuidados continuados, por exemplo.

Sim, do desvio colossal, passámos ao excedente colossal. Acresce a tudo isto o engano – inscrito duas vezes - de 390 milhões no OE 2012, mais os 300 milhões detectados pela UTAO (unidade técnica de apoio orçamental) da Assembleia da República.

Conclui-se, então, que é injustificável o corte do subsídio de Natal ou a subida para a taxa máxima do IVA em todos os sectores mais estratégicos e essenciais, desde a electricidade, passando pela restauração e acabando na alimentação das crianças. E, mais grave ainda, é o encarceramento da economia.
DV 2011-12-14

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