É assim que poderemos resumir a actividade do Executivo. Fazer tudo que tem a fazer, mesmo o que não deve, é o princípio estratégico que conduz o Governo.
Contrariamente ao prometido, a diminuição do défice faz-se pelo lado dos rendimentos e não pelo corte na despesa. "Cortar nas gorduras do Estado" é uma afirmação "mais fácil de dizer do que de fazer", justifica o próprio ministro das finanças que, ao mesmo tempo, considera os aumentos dos impostos e dos preços como o modo mais simples de robustecer a receita.
Longe vão os dias de Abril em que o candidato Passos Coelho, numa escola de Vila Franca de Xira, sossegava uma criança dizendo-lhe que a mãe poderia estar tranquila, porque ninguém iria mexer no seu subsídio de férias. Pois, foi apanhar-lhe o subsídio de Natal! E não será aplicado em nenhum desvio "colossal" no continente, mas tão só para ajudar a tapar o "buraco grego" da Madeira, a contabilidade de gaveta, o desmando regional de João Jardim.
No mesmo momento esclarecia que se viesse a ser 1º Ministro e tivesse como necessário aumentar a receita isso nunca seria feito à custa do rendimento das pessoas. Viu-se! Aumento generalizado dos impostos, IRS, IVA ou IRC, muito para além da Troika. Nada escapou aos mais fracos, mas de tudo isso foram absolvidos os mais ricos, conservando os juros dos depósitos ou as mais-valias num mundo à parte.
O aumento esmagador nos transportes, até 25%, no IVA máximo de 23% da electricidade e do gás, tudo ara além da Troika, passando pela diminuição da comparticipação nos medicamentos ou na criação de dificuldades no acesso à saúde são alguns dos exemplos que ilustram uma realidade simples: hoje, passados 100 dias, vivemos pior! Não houve, entretanto, qualquer estímulo à economia. Pelo contrário, a vontade de para todos os projectos acabou por parar o país.
Não se estranha, pois, que à diminuição brutal do rendimento disponível das famílias corresponda a queda do poder de compra, a falência em série do comércio, a diminuição drástica de encomendas à indústria e das exportações e o consequente aumento do desemprego. Não se estranha, também, que as projecções "animadoras" de Passos Coelho nos indiquem que em 2015 esse desemprego será igual ao deste ano. Palavras para quê?
Como se tudo isto não bastasse, o Governo procura agora mais precariedade no trabalho e tenta conquistar, à margem da Constituição, o despedimento "sem justa causa". Não custa, então, entender que, de um crescimento médio de +1,4% em 2010 e de um abrandamento de -0,9% no 1ºsemestre deste ano, tivéssemos passado para uma recessão profunda no 2º semestre, estimada pelo Executivo em -4%. Por isso, o Governo já só fala em rever os seus próprios cálculos para 2012 passando de -1,8% para -2,5%, conforme afirmação do 1º Ministro.
E quanto a afirmações importa lembrar que o próprio, bem como o seu ministro das finanças, de tudo o que têm dito na última semana apenas se pode concluir que está em preparação um novo resgate que, a acontecer, marcará o falhanço das políticas, a inutilidade dos sacrifícios que temos feito e, bem pior, a inevitabilidade de termos que suportar mais restrições.
Para além da diabolização do passado e das manchas publicitárias das intenções, o Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho, renegociou secretamente um novo memorando sem nada partilhar com a oposição em geral e o PS em particular. Para além disso, nada nos oferece que possa marcar um novo encontro com a esperança e com a confiança. Foram cem dias para além da Troika.
DV 2011.09.28
Sem comentários:
Enviar um comentário